São Paulo, quinta-feira, 27 de janeiro de 1994
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A polêmica obesidade

ALFREDO HALPERN

A imprensa vem alardeando nas últimas semanas um assunto de grande interesse e que é alvo de discussões apaixonadas: o uso de medicamentos para o tratamento da obesidade.
Como pode acontecer nestes casos, onde o bom senso é deixado de lado, existem duas posições antagônicas e igualmente criticáveis: a dos defensores incondicionais e a dos críticos ferozes. Na análise deste assunto, alguns fatos desconhecidos pela maioria absoluta das pessoas devem ser destacados:
1) Obesidade é doença, não é falta de caráter!
2) Existem vários tipos de obesidade, isto é, tem de haver uma modificação no conceito estabelecido de que todo gordo é gordo porque come muito e porque faz poucos exercícios.
3) A obesidade, além de doença, é fator desencadeante de outras doenças que podem prejudicar ou encurtar a vida dos indivíduos, tais como diabetes melitus, hipertensão arterial, elevação de gorduras no sangue, problemas coronarianos, ortopédicos etc, etc, etc.
4) Alguns indivíduos obesos (cerca de 1/3 deles, pelo menos) só conseguem manter um peso aceitável (e vejam que não digo peso ideal, que é também um mito) com a ajuda de algum tipo de medicamento.
5) Há um abuso na utilização de medicamentos supressores do apetite no Brasil; detemos o recorde mundial na utilização do Fenproporex, primo distante da Anfetamina.
6) Esta utilização abusiva é predominantemente feita através de fórmulas manipuladas por farmácias. Não se coloca em dúvida a competência ou a utilidade de muitas farmácias de manipulação, mas é indiscutível que muitos profissionais (ou amadores), frequentemente inaptos ou desonestos, usam do recurso de mandar manipular uma quantidade excessiva de substâncias; isto, somado à crença da população ávida por emagrecer (e que cresce constantemente ano a ano!) com "fórmulas mágicas", faz com que se atinjam cifras fantásticas de consumo destas substâncias.
7) Conscientes deste alto consumo de drogas emagrecedoras, profissionais bem intencionados, mas desconhecendo o fato de que por vezes há indicação no uso delas, propugnam em alto e bom som pela eliminação pura e simples destes medicamentos. Resumindo: o excesso de administração de medicamentos para a obesidade deve ser violentamente combatido (e o Ministério da Saúde parece estar particularmente interessado no assunto), mas também deve ser enfatizado que não é obeso quem quer (muito pelo contrário) e que, eventualmente, a utilização de remédios pode ser a diferença entre estar ou não estar obeso, e isto é de uma extraordinária importância física, psíquica e sócio-cultural, como podem atestar os indivíduos afeitos ao problema.

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