São Paulo, quinta-feira, 27 de janeiro de 1994
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Doctor MC's usam 'standards' em disco

RODRIGO LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL

Doctor's MC usam 'standards' em disco
Enquanto o Unidade Bop faz jazz-rap, o Doctors MC's, que lança no mês que vem seu disco de estréia, "Para Quem Quiser Ver", pelo selo Kaskata, faz rap-jazz. Não há instrumentos acústicos, os samplers pré-gravados (a partir de timbres jazzísticos) são o único acompanhamento das vozes e as letras são autênticos versos de rap: falam de violência policial, mulheres, bailes black e discriminação racial. Os Doctors já haviam participado da coletânea "Vozes da Rua", do Kaskata.
"Antes os samples eram só a partir de coisas do funk, mas isso está saturado", diz o DJ Smokey, 25, dos Doctors. "Pegavam alguma coisa do James Brown e pronto." Smokey diz que não quis usar trechos inteiros já gravados por jazzistas para fazer as bases do disco ("Não seria criativo."), mas preferiu samplear notas ou acordes isolados.
Os estilos bebop e fusion foram os preferidos na hora de samplear as bases. Herbie Hancock, Quincy Jones, Billie Hollyday e Sly and Family Stone são alguns dos "convidados" do LP dos Doctors. "Mas tem que ouvir muito bem para perceber onde estão estes caras. A gente não quis fazer um disco em que desse para sacar tudo logo de cara", diz Smokey.
A opção pelo jazz nas bases não foi cópia do movimento jazz-rap nos EUA e Inglaterra, mas algo que "aconteceria naturalmente", segundo Smokey. Para escolher as bases, recorreram ao arquivo doméstico. "Na hora de gravar o disco, fui no arquivo da coroa e peguei algumas coisas."
Por serem apenas acordes sampleados –e não trechos inteiros "citados"–, a influência do jazz em "Para Quem Quiser Ver" acabou ficando sutil. "Para ser aceito nos bailes, a gente tem que pegar leve com estas misturas. O público do rap tem a cabeça fechada." Para um eventual próximo disco, porém, Smokey tem planos mais ousados: "Quero misturar rap com bossa-nova."

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