São Paulo, quinta-feira, 27 de janeiro de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Lemonheads faz country "junky" em novo disco

MARCEL PLASSE
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Lemonheads fazem country junkie em novo disco
A presença da banda Lemonheads na terceira etapa do M2.000 Festival aquece o lançamento de "Come on Feel the Lemonheads" no Brasil. O disco escalou o topo de diversas seleções de melhores de 93 nos EUA e Inglaterra –primeiro lugar na lista da revista inglesa "Vox".
Evan Dando, líder e pin-up do grupo, passou o ano ajustando-se à imagem de homem-poster, trazida pelo sucesso do disco de 92, "It's a Shame About Ray". Em 92, Lemonheads foi eleita a principal banda das college radios americanas, título que um ano antes pertencia ao Nirvana. Dando foi superexposto em capas de diversas revistas.
"Paid to Smile", do novo disco, uma balada triste –como de resto a maior parte do álbum– é a reação do cantor contra sua transformação em Bon Jovi do college rock. A reação é auto-destrutiva. Durante as gravações, Dando chegou a perder a voz devido a excesso de crack e não fez segredo disso. O nonsense da letra da psicodélica "Dawn Can't Decide" e a travação descrita em "Style" tendem a ser resultado dessas viagens pesadas. Tudo para assustar as meninas que penduram o pin-up na parede.
O álbum podia ser simplesmente um remake de "It's a Shame About Ray", possibilidade escancarada pela repetição do mesmo time de produtores, os Robb Brothers (ex-banda de apoio de Del Shannon, há cerca de 30 anos), da participação vocal de Juliana Hatfield e da tática de lançar um cover como música de trabalho ("Into Your Arms", de Robyn St. Clair, ex-Hummingbirds).
O que faz pulsar "Come on" é uma injeção de country. Dando foi recrutar Sneeky Pete (estranhamente grafado Sneaky no encarte do disco), ex-parceiro de Parsons no Flying Burrito Brothers, para tocar steel guitar. E, como Parsons, misturou country com provocação.
O disparate segue na caipira "I'll Do It Anyway", um dueto com Belinda Carlisle, em que Dando usa o embalo country para dizer que não está em condições de andar de skate. A fama de superficial do cantor vem de besteiróis do gênero. "Favorite T", por exemplo, traz Dando chorando a perda de uma camiseta para uma ex-namorada.
A vertente country acaba se diluindo no pop sucarina dos Lemonheads. A voz hedonista de Juliana Hatfield sublinha palavras doces como "smile" e "sunshine", e as baladas pegajosas rolam no colo de Dando. "It's About Time", dedicada a Hatfield, com quem o cantor morou, é prato cheio para fofocas. O título pode tanto ser referência ao recente sucesso da cantora quanto ao fim de sua tardia virgindade.
A insólita participação do funkster Rick James, gravada entre uma prisão e outra, em "Rick James Style", é o ponto alto do disco. Combinação estranha, Dando e James cantam drogas sobre um órgão típico dos Doors. A música aparece em duas versões. A mais direta, "Style", é quase hardcore. Para radicalizar a estranheza, o disco termina com uma improvisação ao piano. "Come on" tem menos hits que "Ray", mas consagra Dando como o junkie camarada que já está pronto para morrer com estilo, como Gram Parsons.

Título: Come on Feel the Lemonheads
Autor: Lemonheads
Lançamento: Warner (previsto para o fim de janeiro)
Importado: encomendas na Studio Tan (av. Joaquim Eugênio de Lima, 1.220, tel. 887-6807, Pinheiros)
Preço: o equivalente a US$ 22

Texto Anterior: Gênero rompe com anos 80
Próximo Texto: A luta pelo bem jamais se conclui
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.