São Paulo, quinta-feira, 27 de janeiro de 1994
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Desemprego é o tema central do Fórum Econômico Mundial

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A DAVOS

Inaugura-se hoje na cidadezinha suíça de Davos a edição 1994 do Fórum Econômico Mundial, a maior concentração de personalidades que o planeta consegue montar anualmente. O tema deste ano -"Redefinindo os conceitos básicos da economia mundial"- é bem apropriado para um momento de extrema perplexidade em todo o mundo.
Afinal, pouco mais de três anos após a queda do Muro de Berlim, marco simbólico da vitória do capitalismo sobre o comunismo, a economia capitalista não sai do lugar, mergulhada no pântano da recessão na Europa e no Japão e em um crescimento abaixo do normal nos EUA.
Consequência inevitável: uma pilha de desempregados, que, só nos 24 países mais ricos do mundo –os membros da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico)–, afeta 35 milhões de pessoas. Seria o mesmo que toda a população do Estado de São Paulo estar sem emprego, incluídos aí todos os recém-nascidos.
"O crescimento irresistível do desemprego e da exclusão é o problema mais grave deste fim de século", esbraveja o presidente francês, François Mitterrand. Ecoa Felix Rohatyn, financista de Wall Street que organizou o salvamento financeiro da prefeitura de Nova York, há 10 anos: "O desemprego estrutural é o desafio econômico e social mais importante que o mundo ocidental enfrenta".
Divergências
Mas Rohatyn discorda dessa tese: "Nenhum país ocidental é capaz de gerar um crescimento econômico suficiente" (para resolver o problema).
A derivação política das dificuldades sócio-econômicas começa a ser inquietante e estará muito presente no encontro de Davos. Afinal, um dos três copresidentes do Fórum-94 é Lee Kuan Yew, ministro sênior de Cingapura e defensor enfático de uma tese heterorodoxa aos olhos ocidentais. Lee acha que democracia e crescimento econômico não são necessariamente compatíveis. Seu próprio país serviria de exemplo, ao lado dos demais "tigres asiáticos".
Nem tudo são sombras e neve em Davos-94. O Fórum servirá este ano para a apresentação à nata do mundo político, econômico e acadêmico de um provável futuro novo parceiro: os palestinos. Iasser Arafat, líder da Organização para a Libertação da Palestina (OLP), estará presente e terá um encontro com o chanceler de Israel, Shimon Peres, para tentar tirar do atoleiro o acordo de paz assinado entre os dois em setembro passado.
Os editoriais dos jornais suíços são muito otimistas a respeito do encontro Peres-Arafat. Talvez seja reflexo da realidade, talvez seja apenas impossibilidade de otimismo no "front" econômico-social. Afinal, até um arquiconservador é hoje capaz de ironizar: "As economias capitalistas parecem convalidar a principal crítica dos comunistas, ou seja, a de que o capitalismo gera alto desemprego", diz Paul McCracken, que foi presidente do Conselho de Assessores Econômicos de ninguém menos do que Ronald Reagan.

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