São Paulo, sexta-feira, 28 de janeiro de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Vá ao Loon Hwa para fugir do frango xadrez

JOSIMAR MELO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Se a autenticidade de um restaurante chinês fosse medida pela sua frequência, o Loon Hwa estaria entre os mais autênticos de São Paulo: sua clientela é basicamente de chineses e seu proprietário, mal consegue dizer um "até logo" em português. Se o critério fosse outro –a sonoplastia– ele também ganharia pontos. Um de seus pratos mais pedidos é uma sopa de macarrão –que os chineses tomam sem colher, aproximando a tigela da boca e, com auxílio dos pauzinhos, aspirando ruidosamente o liquido.
Se necessário, um terceiro atestado de que a casa vem realmente da China está em seu cardápío bem pouco adaptado aos pratos mais populares entre os brasileiros. Nada de frango xadrez, nem sombra de porco agridoce, nem sinal de carne desfiada com broto de bambu. O elenco de ofertas é bem restrito (também ao contrário dos cardápios estilo lista telefônica de outros lugares), com uma certa mescla de influências regionais. Sua única concessão é o fato de trazer fotos dos pratos, o que auxilia o entendimento por parte dos ocidentais.
Embora já exista há 18 anos, o Loon Hwa (que significa algo como Dragão Chinês, se é que entendi a explicação lá dada) tem uma gestão recente. O fundador do restaurante já não vive aqui. Seu atual proprietário é Kan Chin Chou, 46, nascido em Cantão, filho de donos de restaurantes. Ele chegou ao Brasil em 1986. Em 87 começou a trabalhar no Loon Hwa, que terminou comprando dois anos depois.
O restaurante, bastante simples com suas mesas de fórmica sem toalhas, distribuídas em dois andares, serve pratos que vão do sabor caseiro das sopas e massas a certos requintes que insinuam a grande riqueza da culinária chinesa. O ponto alto é uma entrada –costeletas de porco cobertas com farinha de arroz e temperos com canela, pimenta e gengibre, cozidas no vapor com batata-doce: resultado picante, rico e aromático. Os pastéis de carne bovina (guiosa), fritos, são apenas corretos, como a sopa de wan tan (pastéis de carne de porco).
A sinfonia de ruidos é causada pela sopa de macarrão com músculo ou sua variação em que, no lugar de músculo, vem apenas o "nervo", a cartilagem que normalmente, aqui, seria descartada (lá não somente é servida, como custa mais caro: "dá mais trabalho para tirar toda a carne e deixar só o nervo", explicam...). De consistência gelatinosa mas firme, num caldo saboroso mas um pouco engordurado, é um prato que vale provar pelo sabor e pela cultura gastronômica que ele traz.

Texto Anterior: Blues Etílicos apresenta seu novo disco
Próximo Texto: Fumaça 1; Fumaça 2; Fumaça 3
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.