São Paulo, sexta-feira, 28 de janeiro de 1994
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Negociações

Aristóteles definia o homem como um animal político. Mais uma vez, o estagirita estava certo. Das manhas das crianças ao mais complexo conchavo no Parlamento, o homem está todo o tempo a calcular o melhor meio para obter determinado fim. E a moeda de troca mais frequente nesses processos é a concessão: para conseguir x, concedo y.
E é assim que se faz política. E é assim que governo agiu, esta semana, ao negociar com os partidos contrários à revisão constitucional o seu adiamento em troca da aprovação de medidas provisórias do Plano FHC.
Trata-se de uma escolha delicada, mas vale a pena analisar os cálculos do Planalto. Como se sabe, a proposta de Orçamento zerado para 94 é apenas emergencial e não-sustentável em longo prazo. Se o país deseja ter índices civilizados de inflação por um período mais longo, são necessárias algumas reformas estruturais que redefinam os gastos do Estado. Essas mudanças passam por alterações na Carta. Nesse sentido, a revisão constitucional é, em tese, muito mais importante do que a aprovação de algumas MPs que aumentam impostos.
Mas a realidade é algo mais sutil. Embora os partidos contrários à revisão vejam no seu adiamento uma chance de que ela não se realize, o governo tem boas razões para crer que ela acabará acontecendo. Já a aprovação de MPs tributárias teria de acontecer ainda esta semana, sob pena de o aumento de impostos não poder ser aplicado este ano. E o governo optou por tentar garantir o que era menor mas urgente sem sacrificar o que é maior mas pode esperar.
Se foi uma decisão acertada, só o tempo dirá. E, apesar da grita de alguns pretensos puristas que estão é de olho na sucessão presidencial, o que importa é que o governo negociou, o que é absolutamente normal em qualquer Parlamento do mundo. Costurar acordos faz parte da natureza humana e é bom, respeitados os limites da ética e da lei.

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