São Paulo, domingo, 30 de janeiro de 1994
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São Paulo e Santos cultivam antiga magia

ALBERTO HELENA JR.
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Há quem reclame que eu exagero nessas incursões ao passado, muitas vezes imprecisas, outras oníricas. Mas é do velho conselheiro o axioma de que, conhecendo-se o passado, entende-se melhor o presente e pode-se arriscar uma previsão do futuro. Além do mais, o futebol tem um forte traço conservador. Cultua mitos, coleciona relíquias e reverencia sortilégios.
Tudo isso pra dizer que São Paulo e Santos, protagonistas do clássico desta tarde, cultivam uma antiga magia às avessas: sempre quando um está na crista da onda, o outro surge de tocaia para dar-lhe uma rasteira. Era assim nos tempos em que o Santos não passava de mero coadjuvante do campeonato, tempos do célebre Alçapão da Vila. Foi assim na era Pelé (quem se lembra da tarde de domingo em que o tricolor de Benê, Prado e Pagão botou o Peixe pra correr de campo?). E tem sido assim neste início de década dominada pelo tricolor bicampeão do mundo que, a cada Sansão, pena feito condenado, quando não leva uma tunda.
Portanto, apesar de o São Paulo ter disparado no torneio, é bom se precaver. Em primeiro lugar, porque ambos estão arregimentando seus respectivos times já com a bola rolando. Nenhum teve tempo de escalar todos os seus titulares num treino sequer. O Santos nem mesmo conseguira, na véspera, registrar seu novo contratado, o lateral-esquerdo Piá, ex-Flamengo, enquanto o São Paulo está ameaçado de não poder contar com Leonardo.
Em segundo lugar, deverão estar em campo dois vingadores com as camisas invertidas: Axel, no São Paulo; Dinho, no Santos. Ambos deixaram seus clubes com eles atravessados na garganta. Dinho, porque se considerou desprestigiado ao entrar na transação sem nem ao menos ter sido antes consultado; Axel, porque Pelé mandou bater-lhe na cara as portas da Vila. E a vingança, gente, é um sentimento perigoso. Solta, é um buscapé sem vareta, doido e traiçoeiro, capaz de se voltar contra o próprio vingador.
Ora, todo mundo sabe que, se ninguém falhasse em campo, o jogo terminaria sempre num monótono zero a zero.
*
O Corinthians estréia hoje no Paulista. Pelo menos, para efeito de observação sobre suas possibilidades neste torneio. Sim, porque o confronto de quinta-feira, com o América, não serviu para nada, já que o lamaçal onde chafurdaram os 22 jogadores impediu que houvesse futebol.
Apesar disso, o técnico Afrânio Riul saiu de campo convencido de que o ponta-esquerda Adil é, nas atuais contingências, o substituto ideal de Rivaldo.
Adil é um atacante de silhueta maciça, tem um poderoso disparo de esquerda, é habilidoso e versátil do ponto de vista tático, podendo atuar como ponta típico, fechando pelo meio ou até mesmo enfiado como centroavante. Apesar disso, jamais conseguiu se firmar como titular em nenhum dos clubes por onde passou. E não foram poucos. Não sei. Pode ser que seu mapa astral só agora conseguiu a conjunção ideal e ele, afinal, cintile como uma nova estrela do futebol brasileiro. Já vi isso acontecer com alguns craques no passado. Mas tenho cá minhas dúvidas. Acho mesmo que Viola e Marques lá na frente formariam uma ponta-de-lança mais afiada e venenosa.
Assim como tenho dúvidas que Zé Elias na lateral-esquerda seja a melhor solução. O menino despontou tão bem no meio-campo... Enfim, hoje, contra o Rio Branco, teremos uma idéia mais clara desse quadro. Espero.

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