São Paulo, domingo, 30 de janeiro de 1994
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Para Dias, é preciso fugir dos modismos

Artista critica pós-modernismo e vulgarização

DA REDAÇÃO

Um dos nomes de ponta da renovação da arte brasileira a partir dos anos 60, Antonio Dias desenvolve há mais de duas décadas uma respeitável carreira na Europa. Atualmente fixado em Colônia, Alemanha, Dias permanece, contudo, ligado ao Brasil, onde exibe seus trabalhos com regularidade. No mês que vem sua obra estará exposta na fundação alemã Ursula Blickle. Na entrevista abaixo, concedida por telefone, ele fala sobre suas relações com o modernismo, critica os modismos de mercado e ironiza o crítico Ferreira Gullar, que tem defendido posições contra a arte ligada à tradição da vanguarda ( MAG).
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Folha - Você vê seu trabalho como algo ligado às questões do moderno ou há algum tipo de descolamento pós-moderno?
Antonio Dias - Minha formação está toda ligada aos modernos e aos problemas levantados pela modernidade. A julgar pelo o que vejo dos trabalhops chamados pós-modernos, é algo que não tem a menor relação comigo. Isso é cada dia mais claro.
Folha - Você acredita que as questões levantadas pela vanguarda estão superadas?
Dias - Por que você não telefona para o Ferreira Gullar para perguntar isso?
Folha - Você alguma mudança hoje na função dos museus?
Dias - Os museus continuam mantendo a função de colecionar e de mostrar artistas e movimentos. Mas há também na Europa as chamadas "kunstverein", que são sociedades de arte, que arrecadam dinheiro na área privada e financiam exposições. São entidades que abrem espaço também para artistas mais novos. Muitos podem até fazer sua primeira exposição nessas instituições.
Esta abertura para os mais os jovens já é uma tendência de pelo menos 20 anos. Mesmo no Brasil, nos anos 60, nós já tivemos isso: os museus acabaram se abrindo para as novidades.
Folha - Qual é o grande inimigo da arte hoje?
Dias - Eu acho que é ela mesma. E a relação que ela tem com o mercado, que pode ser muito danosa.
Folha - Como você vê os "movimentos" que entram e saem de evidência atuialmente, tipo volta da pintura, volta do conceitual etc?
Dias - Esse é o perigo, é o inimigo: quando as coisas viram moda. Depois de 15 anos você vê que só sobram dois ou três e o resto fica naquela coisa de "estilo". Mas sempre foi assim. Desde a pintura de corte. O que se vê nesses "movimentos" quase sempre é a vulgarização, a criação de subprodutos.
Folha - Que críticos você citaria hoje como importantes para seu trabalho e para a arte de um modo geral?
Antonio Dias - Aqui na Europa, que é onde eu estou mais atuante, eu citaria o Harald Sveemann, o Helmut Friedel, o Chris Deacon e o Kaspar Koening. São críticos que sem dúvida nenhuma você tem que prestar atenção no que produzem. São críticos independentes, que não vão atrás de galerias e têm idéias ótimas.

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