São Paulo, domingo, 30 de janeiro de 1994
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Onda de pactos na AL favorece os EUA

REGINA CARDEAL
DA REDAÇÃO

A América Latina chegou à conclusão de que o futuro é a integração e perde a conta do número de pactos de livre comércio que está assinando. Sexta-feira passada, a Argentina, já parte do Mercosul (com Brasil, Uruguai e Paraguai), anunciou que espera para este semestre um convite de Washington para negociar sua filiação ao Nafta, o segundo maior bloco comercial do mundo, ligando Estados Unidos, Canadá e México.
A Argentina insiste que não abandona o Mercosul caso seja aceita no Nafta. Mas não se exclui que o país tente seguir os passos do Chile, que rejeitou o Mercosul desde o começo, já negocia com os EUA sua inclusão no Nafta e conseguiu ser aceito na Apec, a Associação de Cooperação da Ásia e do Pacífico.
Embora o livre comércio seja apenas uma meta sem data marcada para a Apec, o Chile quer garantir a aproximação com gigantes do comércio mundial, como o Japão –além dos EUA, também membro da Apec.
A atração dos latino-americanos pelos EUA, o maior parceiro comercial da região, é correspondida, sobretudo num momento em que as economias da Europa e do Japão patinam. Os exportadores norte-americanos redescobriram na recessão de 1990/1991 como é interessante o mercado ao sul.
O esforço dos EUA para ampliar seu mercado nas regiões que mais crescem no mundo –sudeste da Ásia e América Latina– exibe seus resultados nos dados do Departamento do Comércio: em 1992, as exportações norte-americanas para a América Latina cresceram 27%.
Filhotes das reformas empreendidas nos últimos anos na região, os acordos têm sido, em geral, respeitados. E as barreiras comerciais têm caído com velocidade que surpreende organizações como a Unctad (Conferência sobre Comércio e Desenvolvimento das Nações Unidas). De seu último relatório: "A América Latina hoje é mais orientada ao livre mercado do que as 'bem-sucedidas histórias' asiáticas. As restrições ao comércio e à movimentação de capital, por exemplo, são menores."
No final de dezembro passado, o "The New York Times" deu números que mostram os efeitos da onda de acordos comerciais que varre a região. Todos os países se empenham em fechar pactos com os vizinhos. A recordista deve ser a Colômbia, que negocia com nada menos do que 22 países.
Segundo o jornal, o comércio inter-regional das 11 maiores economias cresceu 28% em 1992. No Mercosul, o aumento foi de 25% em 1993 e o comércio entre seus quatro filiados movimentou US$ 9 bilhões –US$ 6 bilhões dos quais entre Brasil e Argentina, apesar dos embates entre os dois. Os argentinos se ressentem de um déficit comercial crescente –para o Brasil, resultado do congelamento do peso, que encareceu os produtos argentinos e favoreceu as importações brasileiras.
As cifras positivas do comércio regional embutem, no entanto, a estagnação das exportações latino-americanas ao resto do mundo.

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