São Paulo, domingo, 30 de janeiro de 1994
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Peritos não acham saída para desemprego

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A DAVOS

Gert Haller, secretário de Estado do Ministério das Finanças alemão, fez na sexta-feira a pergunta por cuja resposta exata todo governante pagaria uma fortuna: "Com que rapidez o crescimento econômico se traduz em mais empregos?"
Haller não deu a resposta, até porque ele próprio reconhece que "essa é a grande questão, não apenas do ponto de vista econômico, mas também político". Tem razão: em cinco dos sete países do G-7, o grupo dos ricos, os governantes de turno perderam as eleições mais recentes. Só se salvaram o alemão Helmut Kohl –ameaçado de ser a vítima da vez, na eleição deste ano– e o britânico John Major.
Foram derrotados "em grande medida pela pobre performance de suas economias nacionais, o que, por sua vez, se deve ao menos parcialmente à pobre performance da economia mundial", aponta Fred Bergsten, diretor do Instituto para a Economia Internacional (EUA).
Haller e Bergsten são duas das 1.200 personalidades do mundo político, acadêmico e empresarial que participam da edição 94 do Fórum Econômico Mundial, em Davos (Suíça).
Sobre eles pesa o fantasma do desemprego, desafio que não encontra sequer um diagnóstico coincidente. Todas as autoridades européias presentes em Davos bateram na tecla da "flexibilização" da legislação trabalhista, eufemismo para o corte de garantias obtidas ao longo dos anos pelo movimento sindical. Ou na das "mudanças estruturais", expressão que tem o mesmo significado prático: "reduzir o custo do trabalho", como diz o ministro francês da Economia, Edmond Alphandery.
É a solução para o desemprego? Não, responde Lawrence Summers, subsecretário do Tesouro norte-americano para Assuntos Internacionais. "A visão estruturalista é uma meia verdade. Há de fato profundos problemas estruturais, mas há pouca perspectiva de sucesso se não houver ao mesmo tempo uma expansão da demanda. Numa economia com pouca demanda, flexibilização de salários ou redução nos pagamentos de seguro-desemprego podem ser contraproducentes." Summers não disse, porém, como se pode aumentar a demanda sem elevar também o déficit público ou a inflação –ou ambos ao mesmo tempo.
Também não é certo que o crescimento econômico será suficiente para reduzir substancialmente o desemprego. Os economistas Luiz Gonzaga Belluzzo (Brasil) e Horst Siebert (Alemanha) calculam, separada mas coincidentemente, que um crescimento de 4% em um dado país gera apenas 1% de crescimento no emprego. Diz Summers: "Com 2% a 3% de crescimento da economia não há espaço para crescimento do emprego, mesmo com estabilização dos preços".
Os dados parecem dar razão a Summers. A economia norte-americana cresceu 2,9% no ano passado, o melhor registro desde os 3,9% de 1988, mas a redução do desemprego é ilusória. Em novembro, por exemplo, foram cortados 376 mil empregos de período integral, mas criaram-se 562 mil empregos de tempo parcial. Logicamente, as estatísticas mostraram redução do desemprego –mas ocultaram que tempo parcial significa também salário parcial.

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