São Paulo, domingo, 2 de outubro de 1994
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Na ponta da língua; Desinformação

MARCELO LEITE

Na ponta da língua
O leitor terá percebido que sou meio dado a umas palavras que raramente aparecem em jornal e inteiramente avesso a outras que nunca deveriam aparecer nele. É que estou convencido de que o jornalismo brasileiro precisa urgentemente de um choque de português.
Não, não é piada. Só que se escreve muito mal nas páginas que você paga para ler. As raras exceções que confirmam a regra estão na secura veraz de Janio de Freitas, no escracho revelador de José Simão, nos paradoxos iluminados de Marcelo Coelho –para citar somente a prata da casa.
A modo de um programa mínimo, ou minimalista, estou disposto a prestar o máximo de atenção a essas desprezadas miudezas. Alguém já disse que Deus está nos detalhes, mas prefiro uma variante mais ácida, ela também alemã: é o diabo que se esconde nos detalhes.
Em uma frase: todo jornalista que não dá atenção à sua ferramenta, o português escrito, começa a comprometer sua credibilidade. Se é capaz de maltratar aquilo que não por acaso se chama de língua materna, com que falta de escrúpulos não tratará a mercadoria que vende, informações?
Desinformação
O colunista Giba Um decidiu destilar seus rancores em nota fantasiosa da "newsletter" justificadamente anônima que publica. Somente o ridículo do texto foi capaz de fazê-lo sobressair do limbo merecido.
Ninguém notaria a tentativa de atacar a instituição do ombudsman da Folha, não fosse o esforço que fez para espremer nada menos do que cinco erros de informação em uma nota de apenas 13 linhas. O menos grave deles foi confundir-me com Marcelo Coelho.
Não é a primeira vez que o apressado jornalista se enrola com informações e nomes tão complicados. Em março de 1993, saiu-se com uma fantástica associação entre a Editora Abril e o ator Christophe Lambert. Na realidade, confundiu-o com o empresário norte-americano Christopher Lund, ex-presidente da Câmara Americana de Comércio em São Paulo. Uma diferença, com efeito, difícil de perceber.
Lembra-me uma querida amiga, que certa vez entrou na livraria e pediu "Bodas de Sangue", de Gramsci. Ela queria, na verdade, "Banhos de Sangue", de Chomsky.

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