São Paulo, domingo, 2 de outubro de 1994
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Vice bom fala pouco e não emenda Orçamento

CYNARA MENEZES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Para vice, Darcy Ribeiro. Se este ano ficou provado que vice bom é o que não aparece, o companheiro de chapa do presidenciável Leonel Brizola (PDT) foi o melhor.
Dele nada se disse, e muita gente nem sabia que disputava uma eleição onde em certos momentos se falou mais de vices que dos presidenciáveis.
Parece praga do Jô Soares. Desde que um personagem seu lançou o bordão "vice não fala", lá pelos idos do governo Figueiredo (1979-1985), nunca os vices foram tão falados (ou malfalados).
Dois –José Sarney e Itamar Franco– se tornaram presidentes em seguida. Nesta campanha, outros dois apareceram tanto que caíram antes da eleição.
Quando Guilherme Palmeira surgiu como companheiro de chapa de Fernando Henrique Cardoso (PSDB), foi saudado como o vice ideal, nos padrões do personagem de Jô: insípido, incolor e inodoro. José Paulo Bisol, vice de Lula (PT), havia sido pouco antes aclamado na convenção do PT.
O espalhafatoso Bisol, poeta dos preciosismos mesmo em atos populares –ficou célebre por desenterrar a palavra "cerúlea" (da cor do céu) para definir a água do lago Paranoá– e herói da CPI do Orçamento, caiu como peixe na rede de emendas superfaturadas que envolve o Congresso.
As emendas ainda fisgaram Palmeira. O candidato a vice de FHC apresentou emenda que favoreceu com dinheiro da União a empreiteira Sérvia, à qual estaria ligado.
Entram no jogo Aloizio Mercadante e Marco Maciel. O primeiro, com a missão de debater economia à altura do criador do Plano Real, se revelou um político carismático, mas não o suficiente para reerguer Lula nas pesquisas eleitorais.
O magro e discreto Maciel criou a mais perfeita frase sobre a função do vice: "Eu vim para servir, não para ser vice", costuma dizer. Ainda assim, por pouco não serve a outra causa no finalzinho da campanha, acusado de receber dinheiro do esquema PC Farias.
As duas mulheres escaladas por Esperidião Amin (PPR) e Orestes Quércia (PMDB) para ganhar o público feminino se revelaram um verdadeiro fiasco.
É provável que se alguém se lembrar de Gardênia Gonçalves, vice de Amin, será apenas como "aquela da língua presa".
Íris de Araújo Rezende, vice de Quércia, parecia despontar para a glória quando subiu numa cadeira, de meia-calça sem sapatos, para discursar na convenção do PMDB.
Entra para história como homenageada da Orquestra de Violeiros de Goiás, paga pelo governo do Estado em evento de campanha.
E quem conhece Vítor Nósseis, Dilton Salomoni e Roberto Gama e Silva? Dificilmente alguém vai dizer que são os vices de Almirante Fortuna (PSC), Carlos Gomes (PRN) e Enéas (Prona).
A julgar pelo desempenho dos demais, concorrem com Darcy Ribeiro ao título de melhor candidato a vice –e o que é melhor, nem precisaram falar nada para isso.

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