São Paulo, domingo, 2 de outubro de 1994 |
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'Bancada 111' usa massacre para se eleger
DANIEL CASTRO
Dois anos depois, ex-comandante da PM adota número de mortos no Carandiru em campanha para Assembléia Hoje, dois anos depois, o massacre de 111 presos no pavilhão 9 da Casa de Detenção de São Paulo virou plataforma política de candidatos a deputado estadual. Nenhum dos acusados foi punido pela Justiça e nenhuma vítima foi indenizada. Pelo contrário, a chacina do Carandiru poderá até render votos nas urnas, amanhã. Se eleitos, pelo menos dois candidatos a deputado estadual deverão formar a "bancada 111". Eles adotaram a centena 111 como número de campanha e defendem idéias "antibandidos". O coronel da reserva da PM Ubiratan Guimarães (PSD), 51, é o "111" mais autêntico. Em 92, ele comandou pessoalmente a invasão do pavilhão 9, para sufocar a rebelião de presos que resultou no massacre de 111. Guimarães tenta amanhã uma vaga na Assembléia Legislativa de São Paulo. Não esconde que foi o "comandante do massacre" e que usa o episódio para tentar conquistar eleitores. Seus folhetos informam que "os incidentes do Carandiru levaram-no a conhecer o verso e o reverso da sorte: se por um lado foi precocemente destituído do cargo (era comandante do policiamento metropolitano), por outro recebeu um maciço apoio popular". Os eleitores do coronel Guimarães poderão escrever na cédula o número 41.111. O candidato nega que a centena 111 seja uma referência mórbida ao número de mortos. Diz que ganhou a senha no sorteio do partido. O deputado estadual Afanasio Jazadji (PFL), 43, tenta se reeleger com o número 25.111. Se conseguir, vai para a "bancada 111". Jazadji se diz o único parlamentar que foi contra a criação da CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito), da Assembléia, que apurou o massacre da Casa de Detenção, embora condene o episódio. "Está na cara que houve exageros", diz. Além dos números, Jazadji e Guimarães estão unidos pelo discurso. Defendem o fechamento do Complexo Carandiru, a pena de morte para crimes hediondos e o fim de algumas "regalias" dos presos –como o direito a "visitas íntimas". Manifestações Uma exposição de obras de arte em frente à Casa de Detenção deverá marcar hoje o segundo aniversário do massacre. Na quarta-feira, entidades de defesa dos direitos humanos vão organizar um ato contra o massacre no largo São Francisco (centro de São Paulo). A Asbras (Associação dos Sentenciados do Brasil) promete uma "paralisação geral e pacífica" em todos os presídios do Estado, da 0h de hoje até 24h de amanhã. O governo do Estado proibiu a Folha de entrar na Casa de Detenção sobre o aniversário do massacre. Alegou que a imprensa prejudicaria um suposto "levantamento de dados a respeito das origens" de um motim de 21 presos, ocorrido na última segunda-feira. Texto Anterior: 22 de dezembro de 1952 Próximo Texto: 'Não vi excesso, cumpri o dever' Índice |
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