São Paulo, domingo, 2 de outubro de 1994
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Os Roosevelt foram casal feliz

CARL WEISER
DO "USA TODAY"

Se o recém-lançado livro "No Ordinary Time" fosse escrito como grafitagem de muro, diria simplesmente: "Franklin ama Eleanor".
Contrariamente à idéia amplamente difundida, o relacionamento entre Franklin Delano Roosevelt e sua mulher, Eleanor, não era o casamento frio, só para aparências que muitos acreditam ter sido, diz a autora Doris Kearns Goodwin.
"Acredita-se que o relacionamento de Franklin e Eleanor era uma parceria política, sem amor", disse Goodwin, numa entrevista. "Não é verdade".
"Eles continuaram se relacionando, se desejando mutuamente. Seu relacionamento era muito mais vivo do que se achava", diz ela. Eleanor era a consciência de Franklin, sua principal conselheira para assuntos nacionais e, muitas vezes literalmente, suas pernas.
Perto do fim de sua vida, Franklin revelou a seu filho o profundo amor que sentia por Eleanor, dizendo que ela era a mulher mais notável que conhecera. "Eu só queria que não estivesse sempre tão ocupada", acrescentou ele.
"No Ordinary Time: Franklin and Eleanor Roosevelt: The Homefront in World War II" (Simon & Schuster, 757 páginas, US$ 30), lançado no dia 23 de setembro, cobre o front doméstico durante a Segunda Guerra Mundial.
"Front doméstico" tem duplo sentido: tanto os problemas nacionais –direitos civis, agitação trabalhista– quanto a vida da Casa Branca, em Washington, e de Hyde Park, em Nova York.
Tanto a Casa Branca quanto Hyde Park viviam repletas de pessoas. A Casa Branca era quase um hotel para os amigos do presidente.
Goodwin afirma que o presidente se cercava de amigos porque, paralisado pela poliomielite, não conseguia sair de casa.
"Como ele não podia sair, o mundo ia até ele", diz a autora.
Goodwin recorreu a várias fontes: desde entrevistas com os filhos de Roosevelt até os registros do mordomo da Casa Branca, passando por recortes do diário Poughkeepsie, que registrava as idas e vindas na vizinha Hyde Park.
Um dos frequentadores das duas residências oficiais era Winston Churchill, que se tornou muito amigo de Roosevelt. Eles passavam horas bebendo, estudando mapas e assustando Eleanor e os funcionários do governo porque o presidente e Churchill ficavam acordados até as 2h.
"Se alguma coisa acontecesse com Churchill, eu não suportaria", disse Roosevelt.
"Conhecer FDR é como abrir sua primeira garrafa de champanhe", disse Churchill.
Enquanto Roosevelt concentrava suas atenções na guerra, Eleanor se concentrava nas questões sociais, combatendo a discriminação contra os negros e promovendo a criação de creches. E, muito antes de Hillary Clinton, lutava pelo sistema nacional de saúde.
À medida que os EUA se fortaleciam, saindo da Grande Depressão e vencendo a guerra, Franklin Roosevelt definhava. Segundo Goodwin, era como se ele sacrificasse sua saúde à nação.

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