São Paulo, terça-feira, 4 de outubro de 1994
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Candidatos caçam votos e colhem a indiferença

FERNANDA CIRENZA

FERNANDA CIRENZA ; MAURICIO STYCER ; PAULO SILVA PINTO
DA COORDENAÇÃO DE ARTIGOS E EVENTOS

MAURICIO STYCER
Os candidatos a deputado federal e estadual que tiveram a coragem de sair às ruas de São Paulo durante a votação de ontem recolheram muita indiferença, alguma hostilidade e uns poucos votos.
Nem mesmo gente conhecida da televisão, como o ator Kito Junkeira, o repórter Jacinto Figueira Jr (``O homem do sapato branco") e a sexóloga Marta Suplicy conseguiram seduzir os eleitores.
Só para se ter uma idéia, o global Kito Junkeira (da novela ``Vereda Tropical"), candidato a deputado estadual pelo PV, conseguiu ser reconhecido por apenas uma fã ao votar ontem de manhã no Centro de Educação Religiosa Judaica, nos Jardins (zona sul).
A sexóloga Marta Suplicy (PT-SP), candidata a deputada federal, ignorou a proibição de boca-de-urna e distribuiu santinhos próximo a uma zona eleitoral.
Conseguiu uma promessa de voto, mas teve de ouvir desaforos: ``Na senhora até voto, mas no barbudo não", disse o frentista Gilmar Geraldo da Silva, referindo-se a Lula, o presidenciável do PT.
Menos sucesso ainda fez Jacinto Figueira Jr., repórter do sensacionalista ``Aqui Agora", do SBT.
``O eleitor está passando como rei do mundo", constatou ``o homem do sapato branco" ao pedir votos em frente ao Colégio Caetano de Campos, na região central.
Um dos poucos candidatos festejados pelos eleitores foi Franco Montoro (PSDB-SP), que disputa uma vaga à Câmara Federal.
Ao sair do colégio em que votou, no Itaim, o veterano político foi aplaudido, beijado e abraçado por cerca de 50 militantes. ``Estou acostumado com isso", disse Montoro, modestamente.
Na porta da mesma escola em que o ator Kito Junkeira votou, o candidato a deputado federal Ailton Trevisan (PFL-SP), tentava –sem sucesso– se aproximar de eleitores.
``O advogado da família", segundo o seu slogan, não se intimidou com a ausência de eleitores e improvisou: ``O advogado da família vota com a família", dizia Trevisan, exibindo na boca-de-urna sua mulher e quatro filhos.
Apesar da simpatia, Trevisan, 46, que disputa seu primeiro mandato, não conseguiu atrair nenhum eleitor distraído.
Com medo da proibição de boca-de-urna, alguns candidatos, como o coronel Ubiratan (PSD-SP), evitaram ser fotografados pedindo votos perto dos colégios eleitorais.
O monarquista Cunha Bueno, candidato a deputado federal pelo PPR-SP, deixou para tentar um corpo-a-corpo com os eleitores na última hora. Chegou à sua zona eleitoral, em Higienópolis, às 16h30 –mas não encontrou ninguém no caminho.
Na tentativa de chamar a atenção dos eleitores, nenhum candidato foi tão longe quanto Osvaldo Martins de Oliveira, o Vadão do Jumento, candidato a deputado estadual pelo PRP.
Vadão saiu para fazer boca-de-urna e votar acompanhado de um jumento. Passeou pela avenida Paulista, até chegar no Colégio Objetivo, em Pinheiros. Ao entrar no colégio com o animal para votar, Vadão foi preso por desobecer a proibição de fazer campanha e depois liberado.

Colaborou PAULO SILVA PINTO, da Reportagem Local

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