São Paulo, terça-feira, 4 de outubro de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Sem-voto do PT e bancada vão à luta

CARLOS EDUARDO ALVES
DA REPORTAGEM LOCAL

O processo de redefinição ou não do PT começa hoje, com o doloroso balanço da derrota de Lula, e termina no meio de 95, com a disputa da direção partidária. De certo, hoje, é que não faltará munição para o tiroteio.
A participação ou não no governo FHC não deverá causar uma grande polêmica. Nenhum setor expressivo do PT encara como real a possibilidade de ganhar cargos na futura administração.
O temor, entre as correntes, fica por conta da posição da ex-prefeita de São Paulo Luiza Erundina, que se sentiu abandonada pelo partido na sua campanha ao Senado.
Convite de FHC
Se aceitar um convite tucano, o cientista político Francisco Weffort levará junto sua expressão pessoal, mas sem peso nos grupos petistas.
O embate que está anunciado é entre os ``sem-voto" que hoje são maioria na direção do PT e pertencem aos grupos da esquerda e extrema-esquerda da legenda e os que sairão reforçados das urnas.
``Temos que superar a dictomia entre a máquina e a franja social social que nos apóia. Com a atual direção isso é impossível", afirma o deputado federal José Genoino, favorito para se tornar o parlamentar petista mais votado em São Paulo.
Para Genoino, os grupos esquerdistas que dominam o PT desde meados de 93 são ``insensíveis" à representatividade social.
``A direção brigou com a base social e a bancada", diz Genoino, que se declara disposto ao entendimento com as áreas de centro do espectro petista para tentar a mudança de rota política.
O raciocínio de Genoino é que, para se tornar uma alternativa real de poder, o PT tem que ampliar suas alianças e, principalmente, dar mais peso à importância de suas bancadas.
Cabresto na bancada
O confronto já pode ser vislumbrado aí. Rui Falcão, o atual presidente petista e representante na cúpula da ala esquerda do partido, aposta que o caminho de reorganização do PT passa também pela ``ação institucional mais coordenada com o partido para evitar o individualismo".
A retórica esconde, no entender dos moderados, a tentativa de manter o cabresto na bancada federal do partido.
Falcão argumenta que as bancadas petistas serão maiores na próxima legislatura e que é necessária a atuação conjunta com a direção partidária para que o PT não se desfigure.
O presidente petista também sinaliza outro dos nós que terão que ser desatados pelo partido: ``Temos que retomar os vínculos com as lutas sociais", diz Falcão.
No jargão interno, trata-se de prioriozar a ação por fora dos limites do Parlamento, uma velha polêmica da esquerda que o PT não conseguiu resolver ainda.
A direção nacional petista será renovada entre junho e julho do próximo ano. Os primeiros confrontos estão marcados para fevereiro, com a escolha de novas direções municipais.
Confronto
Um dos cenários prováveis é que a falta de vida dos núcleos que antes agitavam o PT favoreça a manutenção da atual cúpula.
Genoino, no entanto, acha que o caminho será outro. ``Já nos encontros municipais será impossível ignorar a voz das urnas", afirma.
No fundo, o confronto petista pós-derrota de Lula remete a outra velha polêmica de esquerda: partido de massas x partido de quadros.
A opinião de Lula e o mapa dos vencedores petistas de hoje pode definir a disputa. Mas é impossível prever hoje o resultado da conflagração anunciada.

Texto Anterior: O DIA DE FHC
Próximo Texto: 'Solidariedade' evitará crise no partido, afirma Falcão
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.