São Paulo, terça-feira, 4 de outubro de 1994
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Clientelismo marca eleição em Canudos

BERNARDO CARVALHO
ENVIADO ESPECIAL A CANUDOS

Grande parte dos 7.500 eleitores da região de Canudos (BA), onde há 101 anos o beato Antonio Conselheiro fundou uma comunidade messiânica destruída pelo exército em 1897, não tinha a menor idéia do que estava fazendo ontem.
A matriarca da cidade, Ana Josefa Bispo dos Santos, a dona Zefinha, 77, foi levada a sua seção num carro do prefeito. Na saída, já tinha esquecido o nome dos senadores e deputados em quem tinha votado.
Na casa do prefeito e único médico da cidade, Manoel Adriano Filho, o dr. Vavá, 40, foi montada uma sala só para receber os eleitores que eram trazidos de longe e distribuir cédulas com os números dos candidatos que deviam ser copiados na cédula definitiva.
``Como é que o pessoal vai vir de longe só para votar em gente que nem conhece e nunca mais vai ver? A maioria vem para comer. Não posso deixar o pessoal sem comida. A gente tem que dar o número dos candidatos para eles, senão eles não sabem em quem votar. Aqui no interior tem um clientelismo tremendo. Isso não vai acabar nunca", diz o dr. Vavá, que apóia os candidatos do PFL na região –e Fernando Henrique.
``O único hospital que existe aqui é do prefeito e ele não atende inimigos políticos ou gente que vota em outros candidatos. Houve um tempo em que eu tinha medo até de comer um pedaço de carne com osso, engasgar e ter que ir parar lá na `maternidade' (Santa Casa)", diz a professora Joselina Oliveira Rabelo, 48.
``Atendo todos, seja de que partido for. Uma média de 1.300 pessoas por mês em ambulatório", rebate o dr. Vavá.
``A situação terá 60%. As chances da oposição aqui são menores, por causa da medicina. A população vive sob pressão. O prefeito é o único médico", diz o ex-prefeito, ex-aliado e hoje inimigo político José Ribeiro Gama, o Zito, 49.

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