São Paulo, terça-feira, 4 de outubro de 1994
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Agressividade infantil não faz mal, diz pedagoga

DANIELA FALCÃO*

DANIELA FALCÃO; PAULO SILVA PINTO
DA REPORTAGEM LOCAL

Mordidas, empurrões, puxões de cabelo e arranhões. Para desespero de pais inexperientes, as brigas nas salas de aula do maternal e jardim são parte do cotidiano das escolas.
Segundo psicólogos e pedagogos, os pais só devem se preocupar se as agressões forem frequentes e se a criança se recusar a ir à escola.
``As brigas no maternal não duram mais que alguns minutos. O vocabulário das crianças com um ou dois anos é limitado e elas terminam mostrando suas vontades através de mordidas e arranhões", afirma Elza Maria de Souza Freire, 38, pedagoga da Escola de Educação Infantil Ofélia Polyana.
Elza diz que já se acostumou a acalmar pais ansiosos que procuram a escola assim que descobrem a marca dos dentes de outras crianças no braço de seus filhos.
``Na pré-escola, os pais estão mais preocupados com os cuidados físicos do que com o aprendizado. Sempre que acontece uma briga mais séria, mandamos um bilhete contando o ocorrido, mas muitos pais querem ouvir as explicações pessoalmente", diz a pedagoga.
Para a coordenadora da pré-escola do Externato Bem Me Quer, Olga Maria Jordão, 38, a agressividade faz parte do processo de socialização das crianças. ``Aos dois anos, a criança é muito egoísta e ainda não aprendeu a dividir. Por isso, pequenos conflitos são naturais", diz Olga Jordão.
A experiência dos professores em sala de aula comprova a teoria de Jordão. Fabiana Rudi Valillo, 22, professora do maternalzinho do Externato Bem Me Quer, conta que a maioria das brigas em sua turma (que tem crianças de um e dois anos) é causada pela disputa por brinquedos.
``Dividir qualquer coisa para eles é muito difícil. Quando chega um brinquedo novo, é a maior confusão e sempre termina acontecendo alguma briguinha", diz.
Já nas turmas do jardim, onde os alunos tem em média quatro anos, a maioria das brigas é causada por ciúme dos amigos.
``Quando a criança se sente preterida numa brincadeira, reage dando um empurrão no colega que `roubou' o amigo. No maternal elas costumam morder, mas no jardim o tipo de agressão mais comum é o empurrão", diz Marilda Perez Riberto, professora do jardim 1 do Externato Bem Me Quer.
A coordenadora do ciclo infantil da Escola da Vila, Zélia Cavalcanti Lima, 45, diz que é muito comum crianças de dois anos se morderem. ``Não é por agressividade, é por afetividade. Elas gostam tanto das outras que querem `tirar um pedaço delas'. Não é uma briga."
Na opinião da psicóloga clínica infantil, Vera Bastos de Oliveira, 57, a agressividade é um mecanismo natural de afirmação da criança e deve ser posta para fora.
``Ter um pouco de agressividade é saudável, não faz mal nenhum. O que me preocupa são as crianças apáticas, que nunca reagem. Esse é um sinal de falta de auto-estima a que os pais devem ficar atentos", diz.
A opinião de Oliveira é compartilhada por grande parte dos pedagogos e psicólogos que trabalham com crianças até cinco anos.
Para eles, a agressividade só é vista como defeito quando se torna frequente. Nesse caso, os pais devem ser chamados à escola para discutir quais as prováveis causas da mudança de atitude.
``Toda a agressividade nasce da dor, de alguma frustração ou perda. Por isso, conversar com os pais é fundamental", diz Oliveira.
Mas os coordenadores das pré-escolas afirmam que a maioria das brigas é resolvida em sala de aula, sem que os pais cheguem a tomar conhecimento.
*colaborou Paulo Silva Pinto.

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