São Paulo, terça-feira, 4 de outubro de 1994
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Preço alto pode tirar camarão do cardápio

VICTOR AGOSTINHO
DA REPORTAGEM LOCAL

O alto preço cobrado pelo quilo do camarão pode deixar o paulistano sem degustar esse fruto-do-mar em restaurantes: várias casas ameaçam retirar o crustáceo do cardápio.
A primeira vítima é um dos tradicionais representantes da cozinha toscana em São Paulo, o restaurante Carlino.
Detalhe: este bichinho coprófago (que se alimenta de excrementos) é responsável por 60% dos pedidos feitos pelos frequentadores.
A derrocada do camarão no Carlino deve ser anunciada na próxima semana pelo proprietário Antonio Carlos Marino: ``Não dá mais. Eu não tenho um restaurante para ficar sustentando peixeiro. É uma safadeza o preço cobrado. Essa história de que não tem camarão no mar é conversa fiada."
Marino conta que, na implantação do real, em julho, o quilo do camarão grande (12 centímetros em média) era vendido pelos fornecedores por R$ 12. ``Hoje pagamos de R$ 25 a R$ 30", diz.
``Infelizmente, é possível que o preço até aumente", afirma Jair Felipe dos Santos Júnior, da JJ Comércio de Pescado, instalada no Mercado de Peixes de Santos, litoral de São Paulo.
O comerciante se explica: ``Hoje o barco sai para uma viagem de duas semanas e não consegue mais de 30 quilos de camarão por noite. Antes, a produção era de cem quilos por noite, tranquilamente."
Na opinião do atacadista, a escassez do crustáceo é resultado da pesca predatória durante a desova, de fevereiro a maio. ``Como não se respeita a desova do camarão, ele começa a faltar."
Segundo o presidente da Colônia de Pesca de Ilhabela, Paulo Molinari, os pescadores entregam o quilo do crustáceo aos intermediários por R$ 15. Ilhabela (litoral norte) captura 3 t de camarão grande por mês.
A solução encontrada pelo restaurante La Parra –cuja especialidade é a paella marinera– para não ter que mexer no preço de seus pratos é trabalhar com o camarão numa espécie de mercado futuro.
O restaurante compra uma grande quantidade do crustáceo –300 quilos, por exemplo–, paga à vista com desconto e recebe o produto semanalmente.

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