São Paulo, terça-feira, 4 de outubro de 1994
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Violência na cara

LUIZ CAVERSAN

RIO DE JANEIRO – Mais eloquente impossível a morte de um assaltante e de um policial perto do prédio em que se encontrava, no domingo carioca, Fernando Henrique Cardoso.
Não se tratou de exagero da mídia, ``armação" ou coisas do tipo, sempre identificadas pelo poder público do Rio como a origem de todos os males violentos por aqui.
Não, era a realidade nua e crua, ali ao lado do até então líder nas pesquisas. Os corpos estendidos no chão, a confusão que se estabeleceu no dia do lazer desta cidade conflagrada não deixaram dúvidas quanto à urgência de providências profundas, radicais, para combater a criminalidade impune e assassina.
Fernando Henrique, então quase-presidente, estava ali ao lado, próximo de um Brasil veraz e contundente.
Só não presenciou tudo –e não teve de se esquivar dos carros em alta velocidade e das balas perdidas– por acaso. Um acaso com o qual convive diariamente a população impotente.
Por que o poder público não remove dos morros da cidade os criminosos ali acantonados? Por que o armamento pesado, sofisticadíssimo nas mãos daqueles ``poderosos seminus", não é sumariamente confiscado, destruído?
E por que, finalmente, tantos policiais, usando a frequência de rádio da própria polícia, imprecaram contra o governador –chefe máximo da polícia local– como se ele fosse o culpado pela morte do policial no asfalto violento?
Estas perguntas são repetidas diariamente por toda a gente de bem desta cidade. Não há resposta. O poder público é ausente até nisso, fica se pegando em firulas, como questionar se a escalada da violência é ``vertiginosa" ou não, em vez de simplesmente combatê-la a contento, assim como exigem os cidadãos que mantêm, sustentam, este mesmo poder público.
Não tivesse ocorrido próximo ao local em que se encontrava Fernando Henrique, se a imprensa toda, que estava ali por causa do FHC, não tivesse registrado com detalhes o fato e se os policiais não tivessem até ameaçado, por rádio, invadir a casa do governador, teria sido apenas mais uma batalha na guerra estabelecida, que segue firme, tornando esta cidade sempre e mais assustadora. Principalmente para quem gosta muito daqui.

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