São Paulo, quarta-feira, 5 de outubro de 1994
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Os não-candidatos

JANIO DE FREITAS

De oito candidatos a presidente, a disputa eleitoral esteve sempre reduzida a dois. Para isto contribuíram muito a indução feita pelas pesquisas, cujo papel nas eleições precisa passar por um questionamento sério, e a marginalização de seis candidatos pelos meios de comunicação, que só lhes dedicaram as atenções ociosas para guardar as aparências mínimas de igual tratamento.
Da concentração é necessário dizer, ainda, que teve duas motivações diferentes, segundo o candidato. Voluntária no caso de Fernando Henrique Cardoso, no de Lula da Silva foi forçada pela expressão que ele alcançou desde os primórdios da eleição. Qualquer outro candidato que se destacasse, cedo teria o mesmo tratamento –forçado e, evidência disso, secundário em relação a Fernando Henrique. Nenhum, porém, se elevou sequer o suficiente para tomar de Lula algum espaço secundário, o que os meios de comunicação facilitariam com muito prazer. E essa insuficiência é que hoje interessa aqui.
Enéas Carneiro, Hernani Fortuna e Carlos Gomes fizeram as campanhas ao seu alcance. Mas Orestes Quércia, Leonel Brizola e Esperidião Amin, não. Quércia fez o melhor programa do horário gratuito, suas propostas tinham pontos interessantes e de sensibilização eleitoral, recursos todos sabemos que não lhe faltavam. Mas não agiu como disputante, em nenhuma fase. O que buscou com sua candidatura foi uma espécie de atestado subjetivo de idoneidade, que só o tempo dirá se obteve ou não.
De Brizola suponho que já em 89 lhe faltava a garra esbanjada em outros tempos. Pouco viajou naquela campanha, não preparou material de propaganda, deixou tudo por conta de quem quisesse fazer. A falta de dinheiro serviu mais tarde de justificativa, no entanto contrariada pelos fatos que um deles ilustra bem: o comício de Feira de Santana, segundo grande centro eleitoral da Bahia. Preparado ali um comício invejável, a massa esperava ansiosa, os organizadores não sabiam mais como ocupar o tempo –e nada de Brizola. Ele simplesmente resolvera ficar em Recife. Por nada e para nada. Teve atitudes destas inúmeras vezes, desinteressado da campanha. E ainda assim só não entrou no segundo turno, em lugar de Lula, por 0,54%.
Na campanha de agora a omissão de Brizola foi ainda maior. Nenhuma estrutura, nada de material, poucas viagens e os mesmos bolos no seu eleitorado. Por que se candidatou então? A única explicação ao meu alcance é de que, embora desinteressado da meta presidencial, tem justos motivos para preservar uma presença relevante na política. O que só lhe é possível se mantém a liderança do PDT. E a candidatura à Presidência tem o valor simbólico necessário para isso, no contexto do partido.
A candidatura de Esperidião Amin é, por ora, ininteligível. Largado na calçada pelo PPR, Amin conformou-se como se fosse um pobre diabo, e não alguém dado como vitorioso certo, e logo no primeiro turno, para o governo de Santa Catarina. Seu programa no horário gratuito ficou no pobre limite de um garoto-propaganda de Maluf prefeito, numa subserviência tão deplorável para Amin quanto infrutífera para o propagandeado. E, no entanto, Amin é bem dotado politicamente.
Qualquer exercício sobre os efeitos que Quércia, Brizola e Amin produziriam na eleição, se de fato estivessem empenhados em disputá-la, não passa de exercício da fantasia. Mas que os produziriam, assim como o fizeram em outro sentido, disso não há dúvida.

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