São Paulo, quarta-feira, 5 de outubro de 1994
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Líder da repressão deixa o Haiti

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
DE WASHINGTON

Um dos três integrantes da junta militar do Haiti, tenente-coronel Joseph Michel François, chefe da polícia de Porto Príncipe, deixou ontem o país.
Ele entrou na República Dominicana às 10h (11h em Brasília), depois de ter passado a noite em seu carro no lado de fora de um posto de fronteira, por não estar com os documentos em ordem.
O governo da República Dominicana autorizou sua entrada no país na condição de turista, não de exilado. Ele tem um irmão residente em Santo Domingo, onde é proprietário de uma luxuosa casa.
A notícia da partida de François foi celebrada em Porto Príncipe por partidários do presidente no exílio, Jean-Bertrand Aristide. Seus aliados protestaram e se disseram traídos.
François é considerado o mais brutal dos membros da junta militar. Os outros dois, generais Raoul Cedras e Phillipe Biamby, permanecem no Haiti.
Aristide falou ontem à Assembléia Geral da Organização das Nações Unidas e disse que em onze dias estará de volta ao poder.
Outro de seus maiores inimigos no Haiti, Emanuel Constant, líder do grupo paramilitar Fraph, anunciou que não vai resistir ao retorno de Aristide e pediu a seus seguidores que deponham armas.
A sede da Fraph foi invadida ontem por soldados dos EUA e depois depredada por partidários de Aristide. Constant anunciou o fim de sua militância em discurso na polícia de Porto Príncipe, protegido por tropas dos EUA.
O chefe do Estado-Maior das Forças Armadas dos EUA, general John Shalikashvili, disse que a partida de François e a rendição de Constant mostram que a ``Operação Restaurar a Democracia" está ``no caminho certo".
O secretário da Defesa, William Perry, afirmou que o destaque dado pelos meios de comunicação a incidentes de violência desde a ocupação do país pelas forças dos EUA apresentam ``imagem distorcida da realidade".
``Não temos muitas estatísticas. Mas eu duvido que tenha havido mais violência depois da ocupação do que antes. O Haiti tem sido uma sociedade violenta há décadas", disse Perry.
Tanto Shalikashvili quanto Perry previram que Cedras e Biamby vão seguir o exemplo de François e também deixarão o Haiti até o dia 15, quando terão de entregar o poder nos termos do acordo que firmaram com o ex-presidente Jimmy Carter.
Shalikashvili também disse que até o final do mês o número de soldados dos EUA no Haiti será reduzido dos atuais 21 mil para 15 mil e para 6 mil antes do fim do ano.

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