São Paulo, sexta-feira, 7 de outubro de 1994
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A fala de FHC

O primeiro pronunciamento e entrevista de Fernando Henrique Cardoso como presidente praticamente eleito, ainda que não traga nenhuma surpresa, justifica um cauteloso otimismo ao reafirmar algumas posições acertadas. Constitui na verdade uma declaração política, cautelosa como seria de esperar de um candidato que, embora largamente favorito, ainda não foi oficialmente declarado vencedor.
A manifestação inicial de FHC faz uma avaliação correta –e, de resto, consensual no país– de que a democracia brasileira ainda não se provou capaz de promover o desenvolvimento e que a miséria e a desigualdade social são os principais desafios do próximo governo.
Ressaltando que a escolha dos seus ministros é responsabilidade exclusivamente sua, FHC refutou qualquer compromisso com seus aliados de campanha no que se refere à distribuição de cargos. Evidentemente não poderia dizer outra coisa, mas seria ingenuidade supor que esses grupos não estejam esperando algum tipo de retribuição. É possível imaginar, de outro lado, que a força política do futuro presidente, vitorioso no primeiro turno, seja capaz de contrapor-se às inevitáveis pressões que surgirão.
Quanto aos nomes para o ministério, Fernando Henrique evitou qualquer especulação e empurrou o debate para o futuro. Com isso, é claro, poupa-se do desgaste que tal definição tende a trazer. A composição do gabinete, de todo modo, será um grande teste para a declarada independência de FHC.
Mas é no que se refere a pontos mais específicos dos seus planos de governo que o pronunciamento chama mais a atenção. Do rigor contra bancos estaduais perdulários à parceria com a iniciativa privada no campo da infra-estrutura, da igualdade de tratamento entre capital nacional e estrangeiro à flexibilização do monopólio do petróleo, da reforma do Estado à privatização, as posições defendidas por FHC acenam, se forem mesmo implementadas, com avanços significativos no sentido da modernização do país. O próprio FHC reconhece, no entanto, que muitos desses pontos dependem de aprovação do Congresso Nacional.
É de se notar, por fim, que a ausência de novidades no pronunciamento apenas reforça a imagem do próprio Fernando Henrique, de aversão a grandes surpresas e planos secretos. Por mais que enormes mudanças sejam necessárias no país, depois de todos os sustos e sobressaltos a que a sociedade foi sujeita nos últimos anos, a perspectiva de que tais mudanças sejam feitas com um mínimo de previsibilidade é sem dúvida bem-vinda. Desde que de fato venham.

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