São Paulo, sábado, 8 de outubro de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Tropas do Iraque avançam para o Kuait

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
DE WASHINGTON

Cerca de 20 mil soldados da Guarda Republicana, tropas de elite do Iraque, avançavam ontem na direção do Kuait e 6.000 deles estavam ao sul da cidade de Basra, a cerca de 70 km da fronteira.
O presidente dos EUA, Bill Clinton, ordenou a remoção do porta-aviões USS George Washington, estacionado no mar Adriático para a região do golfo Pérsico, onde chegará em quatro dias.
Mas a partir de hoje, quando atingirem o mar Mediterrâneo, os aviões do George Washington já terão condições de alcançar o espaço aéreo iraquiano sem necessidade de reabastecimento.
A agência de notícias do governo iraquiano negou que o Iraque esteja planejando invadir o Kuait.
Em Washington, o secretário da Defesa dos EUA, William Perry, disse que o movimento de tropas do Iraque ``não é rotineiro e causa preocupação".
Clinton, em entrevista coletiva, afirmou que não vai ``permitir que Bagdá intimide as Nações Unidas" para que seja levantado o embargo econômico em vigor contra o Iraque há quatro anos.
Na quinta-feira, o governo do Iraque fez ameaças de retaliação se o embargo for mantido pela ONU em decisão a ser tomada na semana que vem.
Clinton disse que a suspensão do embargo só ocorrerá quando o Iraque ``obedecer a todas as determinações da ONU".
O presidente norte-americano também declarou que o Iraque ``está enganado se pensa que os EUA estão distraídos por outras ações externas".

Embargo
Congressistas da oposição ao governo Clinton o criticaram ontem por estar empenhando milhares de soldados no Haiti, o que, segundo eles, mandou ao Iraque um sinal de que o flanco do golfo poderia estar aberto.
Além de despachar o USS George Washington, Clinton colocou em prontidão a Primeira Divisão Mecanizada, estacionada no Estado de Kansas, Meio-Oeste dos EUA, enviou para o golfo navios do Exército baseados na ilha de Diego Garcia, no oceano Índico e aumentou a vigilância aérea do Iraque.
O Iraque invadiu o Kuait em 2 de agosto de 1990, sob o argumento de que o território daquele país pertence a ele.
Na mesma data, o Conselho de Segurança da ONU impôs embargo comercial contra o Iraque.
Em 16 de janeiro de 1991, depois de vencido prazo dado pela ONU para a desocupação do Kuait, os EUA e seus aliados iniciaram ataques aéreos e depois terrestres contra o Iraque.
O movimento de tropas do Iraque nas proximidades da fronteira com o Kuait não é proibido pelo acordo de cessar-fogo firmado em fevereiro de 1991.
Mas esta é a primeira vez que tantos soldados iraquianos se aproximam tanto do Kuait desde o final da guerra.
O governo do Kuait foi convocado para reunião de emergência ontem, uma sexta-feira, que é o dia de descanso dos muçulmanos, e resolveu convocar seus reservistas e colocar todas as suas tropas em estado de alerta.
O governo do Reino Unido, principal aliado dos EUA durante a Guerra do Golfo, também despachou para a região uma fragata.
Em Washington, circulam rumores de que o movimento de tropas do Iraque foi ordenado dias depois de uma tentativa de rebelião do Exército contra o governo de Saddam Hussein.
O ex-secretário de Estado James Baker defendeu em entrevista à rede de TV CNN a decisão do governo Bush de não ter prosseguido a guerra em 1991 até Bagdá e de não ter forçado a saída de Hussein do poder.
A Guarda Republicana, com cerca de cem mil soldados, é o principal pilar de sustentação do regime de Hussein.

Texto Anterior: Divórcio de Charles e Diana é `especulação'
Próximo Texto: Entenda a Guerra do Golfo
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.