São Paulo, domingo, 9 de outubro de 1994
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'Normal' desiste até da madrugada

JOSÉ HENRIQUE MARIANTE
DA REPORTAGEM LOCAL

O comerciante Cássio Boucinhas, 26, quer ser considerado o ``tevemaníaco normal", apesar de gastar cerca de dez horas do seu fim-de-semana acompanhando esportes na TV.
Fã incondicional de automobilismo e motociclismo, só troca as transmissões das provas para acompanhar ``in loco" as disputas nacionais em Interlagos.
Com orgulho, diz possuir uma foto rara: Ayrton Senna, de braços levantados, comemorando a vitória do GP Brasil de F-1 em 1993.
``Estava na arquibancada da reta oposta quando ele levou a bandeirada e todo mundo invadiu a pista. Fui junto e tirei a foto", conta, porém, lembrando que seu ídolo é Nélson Piquet.
Esse é apenas um dos vários documentos que Cássio coleciona desde o final da década de 70. Os números são impressionantes: 700 revistas especializadas e cerca de 50 fitas de vídeo.
A sede por esse tipo de material é tanta que chega a reclamar da falta de opções no mercado.
``Assinar uma revista de motociclismo, por exemplo, significa receber seu exemplar semanas após ele chegar nas bancas. Vídeo, então, é brincadeira. Simplesmente não existe."
A saída é apelar para as gravações caseiras e fitas importadas. Como bom ``sofatleta", não confia apenas nas palavras de locutores e comentaristas.
``A quantidade de bobagem dita na TV é impressionante", afirma. ``O pior deles é o Elia Júnior. Em um só GP de Motovelocidade eu anotei dez erros do cara. Ele trocou até o nome do líder da prova. Tive que abaixar o som da TV", relata.
Cássio faz uso dos canais abertos e assina a TVA/ESPN. ``É essencial. Os canais normais abrem pouco espaço para o esporte e muitas vezes tentam ludibriar o telespectador", diz.
``Muitos eventos são passados em videoteipe quando o resultado já está estampado nos jornais. Perde a emoção."
E é essa a razão principal apontada por Cássio para acompanhar com tanto afinco diversas modalidades esportivas.
``É legal ver quem chega na frente, quem é o melhor. Perceber como o sujeito chegou lá e vivenciar essa emoção", afirma.
Apesar de reconhecer o fanatismo, Cássio diz que sabe dividir seu tempo. ``Nunca briguei com namorada por causa disso. Posso até me atrasar às vezes. Mas sou um cara normal", declara.
O truque, segundo ele, é aproveitar bem a madrugada. Enquanto muitos dormem, Cássio chega a ficar acordado até as 4h da manhã com a TV ligada. ``A única coisa que não dá para aguentar é golfe", diz.
Torcedor do Atlético-MG, Cássio ainda frequenta os estádios de futebol. Mas com menor intensidade do que quando era garoto e morava em Belo Horizonte. Era filiado da organizada Galoucura e acompanhava até o time de vôlei do clube.
(JHM)

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