São Paulo, segunda-feira, 10 de outubro de 1994
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Paris celebra fotografia de moda

ERIKA PALOMINO
ENVIADA ESPECIAL A PARIS

Só mesmo na capital da moda –como eles adoram dizer por aqui. Começa hoje e segue até o dia 18 o Festival Internacional da Fotografia de Moda, no mesmo local (o Carrousel do Louvre) e período dos desfiles das coleções do prêt-à-porter de verão.
São 42 fotógrafos na seleção oficial, mais seis mostras paralelas e um concurso nas categorias moda fotografada em estúdio, em externas, beleza, natureza morta, acessórios, pesquisa pessoal, catálogo ou publicidade. Os prêmios serão anunciados dia 16 por um júri que inclui as modelos Linda Evangelista e Isabella Rosselini. Ainda, debates e projeções sobre os trabalhos em questão, no dia 15.
Esta é a quarta edição do evento, que a partir de agora tem sede permanente em Paris (nos anos anteriores, Budapeste, Barcelona e Mônaco). Mas mais importante que este megapanorama ou que a reunião de todos esses profissionais e obras é o fato de o festival tirar da fotografia de moda o ranço de frivolidade e preconceito proveniente da fotografia dita ``séria".
Há quem adore criticar as supostas condições ideais de trabalho da foto de moda, balela que a diretora do festival Béatrice Dupire, se dedica a derrubar, na apresentação à imprensa: ``A foto de moda é impossível se todos os elementos não estão reunidos e coesos (roupa, maquiagem, modelo, luz...). Um fotógrafo de moda deve se adaptar aos mil contratempos que surgem na hora e saber trabalhar em equipe. Ainda, é muito rápida a velocidade das informações, das estéticas. Raros são os que conseguem".
Dupire cita o caso de Patrick Demarchelier, há 30 anos no mercado.
Outros tops na mostra são os já consagrados Arthur Elgort, Peter Lindbergh, Steven Meisel, Ellen Von Unwerth, Herb Ritts, Sante D'orazio, Mario Testino e Nick Knight. Mas outro mérito do festival é o reconhecimento em relação a nomes mais novos ou em ascensão, como Paolo Roversi, Juergen Teller, Mario Sorrenti e David Sims.
Corrine Day, a inglesa que detonou há dois anos o movimento da chamada fotografia realista (ou naturalista) ganha mostra individual. A homenagem serve como ponto de referência para as duas principais tendências da fotografia de moda contemporânea: a realista (mais despojada e supostamente mais espontânea, que busca –do mesmo modo artificial de sempre– imagens simples e secas) e a do neoglamour, inspirada na estética dos fotógrafos Helmut Newton e Guy Bourdin, dos anos 70.
Outras mostras paralelas do evento respondem aos diferentes aspectos e linguagens da fotografia de moda. ``Mode et Musique" (Moda e Música) trata das interferências e influências recíprocas das duas áreas; ``Tolérance" (Tolerância) traz um viés mais politizado, relacionado a diferenças sociais; ``Kaléidoscope" (Caleidoscópio) abre espaço para novos fotógrafos que ainda não publicaram em revistas, em trabalhos criados especificamente para o festival. Nesta seção, um dos hypes é a francesa Sophie Delaporte, de 23 anos, com marcado uso de recursos de luz e da granulação da foto.
Na mostra ``Beautés Noires" (Belezas Negras), Thierry Legouès exalta a mulher negra em 20 imagens, enquanto ``Vues De Dos" (Vistas de Costas) os objetos em questão são costas –especificamente as ``Derrières". A idéia (ótima, aliás) é do fotógrafo Jeanloup Sieff, um dos mestres do gênero.
As imagens incluem ainda a fotógrafa Lilian Bassman, que começou com Alexey Brodovitch nos tempos áureos da ``Harper's Bazaar" nos anos 50, em sua primeira grande mostra.
E ainda –como sinal máximo de profissionalismo e cuidado do festival– homenagens ao trabalho de Linda Evangelista e do beauty-artist Stéphane Marais.
Pensar que no Brasil, por exemplo, maquiador e modelo são às vezes os últimos da lista.

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