São Paulo, segunda-feira, 10 de outubro de 1994
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Tipo rústico diferenciou Mauricio do Valle

INÁCIO ARAUJO
DA REDAÇÃO

O ator Maurício do Valle, que morreu sexta-feira no Rio de Janeiro, fugia às normas. O tipo grandalhão, rústico, o rosto naturalmente dramático, os gestos pesados mas inesperadamente ágeis deram-lhe um lugar especialíssimo no cinema brasileiro.
Ele foi o ator-chave de Glauber Rocha, com quem trabalhou pela primeira vez em ``Deus e o Diabo na Terra do Sol" (1963). Em seguida faria com Glauber ``Terra em Transe" (1966), ``O Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro" (1968), e ``A Idade da Terra" (1978/80).
Em ``Deus e o Diabo" e ``O Dragão da Maldade", criou o matador Antônio das Mortes, o personagem do cinema brasileiro mais célebre internacionalmente.
Mauricio do Valle foi internado na sexta-feira de madrugada no Hospital do Andaraí, zona norte do Rio. Morreu às 17h, por complicações decorrentes de diabetes. Há três meses, parte de sua perna esquerda havia sido amputada.
O ator foi enterrado sábado no cemitério do Catumbi, Rio, cidade onde iniciou sua carreira em 1952, no filme ``Tudo Azul", de Moacyr Fenelon.
Foi com Glauber Rocha, no entanto, que fixou sua personalidade. Ele costumava contar o encontro entre os dois: ``Eu cheguei a me incomodar com aquele jovem que me olhava insistentemente num restaurante. De repente, ele chegou e declarou solenemente: `Você vai fazer o meu filme'. Me deu o roteiro, eu li, gostei e fiz".
Antônio das Mortes lhe abriu caminho nos anos 60 para o chamado ``ciclo do cangaço", onde trabalhou em filmes como ``Corisco, o Diabo Loiro", de Carlos Coimbra, e ``Cangaceiro Sanguinário", de Oswaldo de Oliveira.
Também saía-se bem em comédias, gênero em que seu tipo funcionava como contraponto ao humor do grupo Os Trapalhões, por exemplo, em várias ocasiões.
A fama como Antônio das Mortes lhe deu papéis em outros filmes de prestígio. Trabalhou com Roberto Santos em um de seus principais filmes, ``A Hora e a Vez de Augusto Matraga" (1965), e duas vezes com Maurice Capovilla, em ``Bebel, Garota Propaganda" (1967) e ``O Profeta da Fome" (1969).
Entrou nos anos 70 trabalhando tanto em policiais, como ``O Marginal" (1975), de Carlos Manga, e em várias pornochanchadas (como ``Kung Fu contra as Bonecas" e ``Nos Tempos da Vaselina").
Em televisão, começou em uma novela de seu amigo Benedito Ruy Barbosa, ``Meu Pedacinho de Chão" (1971/72). Participou ainda das novelas ``Jerônimo, o Herói do Sertão" (1972/73), ``Cabocla" (1979) e ``Roque Santeiro" (1985), e da minissérie ``O Tempo e o Vento" (1985).
(IA)

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