São Paulo, quinta-feira, 13 de outubro de 1994
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Atendimento à população de rua

ADAIL VETTORAZZO

A Secretaria da Família e do Bem-Estar Social e entidades sociais acabaram de realizar a contagem de homens de rua na cidade de São Paulo. São 4.549 pessoas sem-teto, morando embaixo de marquises e viadutos, em praças e becos. Muitas são alcoólatras, doentes mentais, desempregados. Homens e mulheres destituídos de quase tudo na vida, sem nenhuma perspectiva de reintegração social.
Existe, no entanto, um número de moradores que se encontram na rua circunstancialmente por motivos diversos; o principal é a política econômica adotada pelo governo federal. O mercado não consegue absorver toda a mão-de-obra e o resultado é o desemprego.
Para diminuir o sofrimento dos moradores de rua, a prefeitura realizava um atendimento emergencial nos meses de temperatura mais baixa, ou seja, entre junho e setembro. É a Operação Inverno. Neste ano, foi batido o recorde de registro de pernoites: mais de 115 mil. Durante quatro meses, os moradores de rua foram atendidos nos albergues gerenciados pela prefeitura e nos conveniados.
A partir de agora, após a contagem dos sem-teto, a administração Paulo Maluf decidiu desenvolver uma política de atendimento permanente. Inicialmente, serão implantados dez centros de convivência em áreas municipais, no centro da cidade. O primeiro deles será embaixo do viaduto do Glicério, em convênio com um grupo de empresários ligados ao Pensamento Nacional das Bases Empresariais e com a Organização de Auxílio Fraterno (OAF), entidade de caráter religioso.
Também serão elaboradas normas municipais, disciplinando a instalação de alojamentos pelas empreiteiras nos canteiros de obras, para a moradia dos operários da construção civil. Outra medida será a implantação de ``repúblicas do povo de rua", em imóveis locados pela prefeitura nas proximidades da região central. Essas repúblicas serão residências provisórias.
Em caráter experimental, a Secretaria da Família e do Bem-Estar Social pretende ainda implantar um projeto agrícola, em convênio com a iniciativa privada, de aproveitamento da mão-de-obra disponível. Serão também adequados os baixos do viaduto Pedroso e um imóvel no bairro do Belém, para se transformarem em abrigos.
Espera-se com todas essas propostas reduzir sensivelmente a população de rua, num esforço conjunto de todos os segmentos da sociedade, já que o poder público sozinho é incapaz de resolver o problema. Será a primeira vez, em São Paulo, que uma política permanente será implantada com a finalidade de reintegrar socialmente milhares de seres humanos que vivem à margem da cidadania.

ADAIL VETORAZZO, 59, é secretário municipal da Família e do Bem-Estar Social de São Paulo. Foi prefeito de São José do Rio Preto (SP) de 69 a 72 e de 77 a 82.

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