São Paulo, quinta-feira, 13 de outubro de 1994
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`Ouvia os gritos no barco'

FRANCISCO SANTOS
MARCELO MIGLIACCIO

FRANCISCO SANTOS ; MARCELO MIGLIACCIO
DA SUCURSAL DO RIO

O pernambucano João José de Oliveira Santos, 35, o Joca, um dos 20 sobreviventes do naufrágio do pesqueiro ``Tunamar", disse à Folha que o naufrágio não durou mais de cinco minutos.
``O vigia Tião entrou no camarote, acendeu a luz e gritou: `Acorda, rapaziada, que o barco tá indo pro fundo.' Logo depois as luzes se apagaram e em cinco minutos o barco emborcou", afirma.
Joca relata que quando sentiu o barco virando, subiu na borda que estava voltada para cima e foi acompanhando o movimento do barco em sentido contrário, até ficar sobre o casco, junto com mais quatro sobreviventes.
Eles ficaram sobre o casco das 2h30 às 6h da terça-feira, quando a embarcação foi ao fundo. De fora, Joca conta que ouvia os que ficaram dentro do barco gritando e batendo no casco para mostrar que estavam vivos.
Antes do ``Tunamar" afundar, três tripulantes ainda conseguiram sair. Ao mesmo tempo, um dos que estavam sobre o casco foi arrastado pelo empuxo do barco afundando e morreu.
Joca disse que ele e outros náufragos boiaram por duas horas até serem salvos por um pesqueiro.
Para boiar, ele contou apenas com a ajuda de varas de bambu. ``O barco tinha tudo, coletes sob os colchões e botes, mas não deu tempo de pegar nada. Não deu tempo nem de pedir socorro."
Pescador desde os 16 anos, Joca diz que volta ao mar logo que possível. ``É o que sei fazer."

`Verão da lata'
As cerca de 15 mil latas de maconha atiradas no litoral do Rio pela tripulação do Solana Star em 87 transformaram o verão que se seguiu no ``verão da lata".
Após zarpar da Austrália com destino aos EUA, o navio ancorou na baía de Guanabara para reparos. Em 87, antes de ancorar, temendo um flagrante da polícia marítima, os tripulantes resolveram se livrar da carga comprometedora, jogando as latas de maconha enquanto estavam em alto-mar.
Quando as primeiras latas –com cerca de um quilo de maconha– chegaram às praias e seu conteúdo foi experimentado, descobriu-se que a qualidade da erva era superior à da vendida no país.
``Era maravilhosa", lembra hoje o líder de uma banda de rock carioca que fazia sucesso na época e não quer seu nome publicado. O deputado federal eleito Fernando Gabeira (PV) não experimentou, mas ouviu boas referências.
A expressão ``da lata" logo foi incorporada ao vocabulário da época e era usada para qualificar tudo o que era de bom nível.

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