São Paulo, quinta-feira, 13 de outubro de 1994
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Varejo culpa indústria por alta de preços

FÁTIMA FERNANDES; MÁRCIA DE CHIARA
DA REPORTAGEM LOCAL

Indústria e comércio estão num verdadeiro ``jogo de empurra" para justificar aumentos de preços.
O varejo culpa a indústria pelo corte nos descontos e nos prazos de pagamento.
A indústria alega que os descontos fazem parte de estratégia promocional e podem acabar de uma hora para outra.
E mais: os fabricantes dizem que a pressão de custos vem das matérias-primas, especialmente para embalagens.
Já os fabricantes de embalagens afirmam que há aumento de preços nas matérias-primas básicas (como celulose, alumínio e polietileno, por exemplo).
Mesmo assim, informam que estão ``segurando" os repasses. Neste jogo, ninguém quer ter a fama de ser o primeiro a desencadear aumentos de preços.
``Vamos denunciar quem fizer reajustes. Fomos chamados de bandidos uma vez. Agora não queremos ser chamados de canalhas", diz Firmino Rodrigues Alves, vice-presidente da Apas (Associação Paulista de Supermercados).
As cervejarias, por exemplo, conta ele, acabaram com os descontos de 5% a 10% que vinham dando para os supermercados. Algumas empresas mantém descontos só na venda de cervejas em garrafas grandes.
``A Coca-Cola também cortou descontos na linha de garrafas plásticas", diz ele.
Cesar Azambuja, gerente de operações da Coca-Cola para o Estado de São Paulo, diz que os descontos são eventuais.
Ocorrem especialmente quando há promoções conjuntas entre a empresa e os supermercados.
``Existe uma forte ameaça de corte nos descontos, especialmente nas linhas de margarinas e de higiene pessoal", diz Alves.
Jorge da Conceição Lopes, diretor do supermercado Santa Luzia, afirma que os reajustes, restritos aos derivados de carne e de leite, chegam a 30%.
A picanha defumada, por exemplo, subiu em setembro 30%; os salames e as salsichas, de 5% a 20% e os queijos, de 15% a 20%. ``Mas isso aconteceu por causa da estiagem."
A Chocolates Garoto admite que reduziu descontos promocionais de 10% para 8%. Mas também tem seu motivo: subiram os custos da mão-de-obra, do leite e das embalagens. Além disso, o consumo de chocolate está aquecido.
Para Jacob Cremasco, diretor da Garoto, este corte não vai provocar aumento no preço do produto final porque os supermercados estão negociando margens. ``Com o Real há um congelamento moral."
A rede de supermercados Mambo sente que as pressões para aumentos são generalizadas. Em alguns casos, estão camufladas na redução de prazos de pagamento.
Dois grandes fabricantes de papel higiênico, por exemplo, cortaram os descontos de 3% a 5% que davam ao supermercado. Um fornecedor voltou atrás. Outro, perdeu o Mambo como cliente.
A indústria está mesmo sem coragem de mostrar uma tabela de preços reajustada, afirma Michael Klein, diretor da Casas Bahia.
Segundo ele, ``cada fornecedor tem medo de ser o primeiro a aumentar preços. Por isso, a indústria pode até reajustar em conjunto."
César Penna, diretor da Melhoramentos, conta que a sua empresa continua dando ``descontos promocionais cíclicos" para seis marcas de papel higiênico que fabrica. ``Uma hora promovemos uma e não a outra. Isso pode dar a impressão de que há retirada de descontos."

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