São Paulo, sexta-feira, 14 de outubro de 1994
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A política econômica de FHC

LUÍS NASSIF

Dois grupos de economistas devem começar em breve a disputar espaço no próximo governo Fernando Henrique Cardoso. Numa ponta, o chamado grupo da PUC-Rio. Na outra, o grupo paulista, impropriamente chamado de Unicamp ou USP. Na verdade, são economistas que têm em comum o fato de gravitar em torno do futuro senador José Serra.
Há diferenças conceituais e operacionais entre ambos.
Para quem gosta de rótulos, o grupo da PUC pratica o chamado neoliberalismo explícito. Cabe ao governo exclusivamente acertar os chamados fundamentos da economia e apertar o calo da produção nacional com a ampliação da abertura.
Já o chamado pensamento paulista julga que, simultaneamente à abertura, há a necessidade de o governo definir princípios de política industrial mais complexos, como legislação antidumping, sistemas de financiamento de longo prazo, políticas setoriais etc.
De certo modo, o fôlego operacional de um e outro explica em parte suas concepções. O grupo paulista tem mais pique e mais experiência operacional. Não se limita a flanar na macroeconomia. Tem propostas concretas para a área tributária, para as políticas sociais, para a política industrial, para o sistema portuário, para o Orçamento. O grupo da PUC é composto de intelectuais em estado puro –quer dizer, sem familiaridade e paciência com o prosaísmo do dia-a-dia. Se espremer todas suas concepções, não dá meia tigela de decisões práticas.
Em contrapartida, o grupo paulista é mais suscetível às lágrimas do setor industrial com a abertura da economia, mesmo após a comprovação prática de que a abertura não provocou a temida "desindustrialização" brasileira.
Há vantagens e desvantagens em um e outro. Por seus conhecimentos, o grupo paulista teria a vantagem de preparar com mais competência o chamado ambiente econômico competitivo. Por suas inclinações, tenderia a buscar práticas mais centralizadoras e a tentar restabelecer o império do produtor sobre o consumidor.
O relevante na história é FHC não repetir seu erro como ministro, de escolher economistas para gerenciar. Assessor é para assessorar. Economista é para teorizar. Na gerência, com raras exceções (Serra é um deles), costumam ser desastres completos. Prova disso é o imobilismo de sua assessoria no segundo semestre do ano passado.

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