São Paulo, sábado, 15 de outubro de 1994
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Arafat, Peres e Rabin dividem Nobel

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

O acordo de paz entre Israel e OLP (Organização para a Libertação da Palestina) deu o Prêmio Nobel da Paz aos seus principais protagonistas: Iasser Arafat, Yitzhak Rabin e Shimon Peres.
O presidente do Comitê Norueguês do Nobel, Francis Sejersted, afirmou que os três conquistaram o prêmio "pelos seus esforços para estabelecer a paz no Oriente Médio".
Segundo o comitê, eles políticos "fizeram uma contribuição substancial para o processo histórico pelo qual a paz e a cooperação podem substituir a guerra e o ódio".
O acordo de setembro de 1993, que foi negociado na Noruega, assegurou a autonomia palestina na faixa de Gaza e na cidade de Jericó (Cisjordânia) e o fim do conflito entre a OLP e Israel.
Apesar do acordo, as negociações correm risco por causa do sequestro do soldado israelense Nachshon Waxman por radicais do Movimento de Resistência Islâmico Hamas (leia texto nessa página).
Arafat, presidente da OLP, e o premiê Rabin dedicaram os prêmios a palestinos e israelenses, respectivamente.
Em uma declaração escrita, Rabin disse que o prêmio era "para toda a nação, para os cidadãos do Estado de Israel, as famílias enlutadas, os mutilados, os milhares de combatentes das guerras de Israel".
Arafat salientou o sofrimento dos palestinos: "Esse prêmio não é de fato para mim. É para o meu povo, que sofreu muito, para nossos mártires, para nossos prisioneiros, para nossos filhos, para que possamos ter uma paz duradoura".
Já as mulheres de Arafat e Rabin tiveram reações opostas. Para Suha Arafat, o prêmio concedido ao seu marido marca "um dia de alegria para sua família".
Já Lea Rabin disse que o dia de ontem era de tristeza. "Ainda que se trate de um prêmio importante, não podemos nos sentir felizes de verdade até que esteja resolvido o drama do soldado sequestrado".
A premiação de Peres, ministro das Relações Exteriores de Israel, pegou de surpresa observadores do Comitê Norueguês do Nobel.
Peres cumprimentou os demais vencedores e rejeitou proposta da oposição israelense para que ele e Rabin se recusassem a dividir o prêmio com Arafat: "A paz é feita com os inimigos de ontem. Qual é a alternativa?"
O principal negociador palestino, Mahmoud Abbas, se disse desapontado por não ter sido nomeado entre os vencedores junto com Peres, seu equivalente israelense, Rabin e Arafat.
Segundo Sejersted, a escolha de dois israelenses e apenas um palestino não significa que o comitê acredita que os israelenses fizeram mais pela paz.
"Fizemos a escolha dessa forma porque achamos muito difícil distinguir entre os esforços de Rabin e Peres", disse.
O prêmio equivalente a US$ 950 mil será dividido igualmente entre os três. A entrega do dinheiro, de medalhas de ouro e de diplomas será feita em Oslo no dia 10 de dezembro.
Essa é a primeira vez em 93 anos do Nobel da Paz que ele é dividido por mais de duas pessoas ou organizações.
Inventor da dinamite e outros explosivos, o sueco Alfred Nobel deixou a maior parte de sua herança para a Fundação Nobel, que a usou para a distribuição dos prêmios a partir de 1901.
Essa é a segunda vez consecutiva que ex-inimigos recebem o Nobel da Paz, distribuído por um comitê do Parlamento norueguês a partir da independência deste país em 1905.
No ano passado, Nelson Mandela e Frederik de Klerk receberam o prêmio pelo processo que levou ao fim do governo de minoria branca na África do Sul.
Antes deles, o primeiro-ministro de Israel Menachem Begin e o presidente egípcio Anuar al Sadat receberam o prêmio de 1978.
No ano seguinte, Begin e Sadat assinaram o acordo de Camp David, o primeiro entre Israel e um país árabe.

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