São Paulo, domingo, 16 de outubro de 1994 |
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Desconfiança gerou voto de protesto
FERNANDO RODRIGUES
O subtítulo desta reportagem está errado. O percentual de eleitores (39%) que votaram em branco ou nulo, em São Paulo, por não não confiar nos candidatos a governandor do Estado refere-se à parcela do eleitorado paulista que não escolheu nenhum dos concorrentes ao cargo e não ao universo de votantes. A desconfiança nos candidatos foi o principal motivo que levou os eleitores a votar em branco ou nulo na hora de escolher o governador de São Paulo. Segundo pesquisa Datafolha, 39% dos eleitores que votaram em branco ou nulo para governador o fizeram por não confiar nos candidatos. Outros 30% acham que os políticos ``não resolvem nada". Para 14%, ``são todos ladrões". A pesquisa foi realizada no último dia 7, com 2.012 pessoas em 56 cidades paulistas. A condição para ser entrevistado era ter votado em branco ou nulo. A margem de erro é de três pontos percentuais. Para as duas vagas paulistas no Senado, a principal razão do voto nulo ou branco foi semelhante à registrada no caso do governo: 25% disseram não acreditar nos políticos. Só que no caso do Senado, 23% dos que anularam ou votaram em branco disseram não conhecer os candidatos. Outros 14% optaram por votar em apenas uma pessoa. E 11% sequer sabiam ser possível votar em dois candidatos. O percentual de votos brancos e nulos para a vaga de governador em São Paulo foi de 23,7% sobre o total de votos. Para as duas vagas no Senado, 49,5% dos votos foram em branco. ``É como se, na média, metade dos eleitores tivesse votado apenas em um candidato", explica Gustavo Venturi, 36, diretor do Datafolha. Outros 22,95% foram nulos. O professor de história da Unicamp Luiz Felipe de Alencastro, 48, aponta como uma das principais causas do voto nulo ou branco ``um defeito na propaganda eleitoral na TV". ``Foi um erro a divisão do tempo para deputados e senadores. E não houve debates sérios. É absurda a legislação que exige a presença de todos os candidatos", afirma Alencastro. Para o historiador, `àntes de começar a ter julgamentos peremptórios sobre o comportamento do eleitor é preciso pensar em mudar as regras para a propaganda". Olgária Matos, 45, professora de filosofia da USP, analisa os votos nulos e brancos nesta eleição como ``um descrédito do eleitor em relação às instituições". ``Eu acho que a sociedade brasileira se politizou. Mas há uma quase equivalência com o aumento de incredulidade sobre a eficácia dos políticos em representarem uma parcela da população", diz Matos. A cientista política da USP Maria Tereza Sadek, 46, classifica os votos nulos e brancos paulistas como ``protesto puro". ``Basta ver as três primeiras razões apontadas na pesquisa Datafolha no caso do voto para governador", diz Sadek. Para ela, ``isso aparece nessa escala porque o voto é obrigatório. Fazendo as comparações adequadas, o Brasil não está tão longe dos padrões mundiais". Escolaridade A desconfiança em relação aos candidatos ao governo é maior entre as pessoas como maior grau de escolaridade, segundo o Datafolha. Entre os entrevistados que fizeram até o 1º grau, 37% votaram em branco ou nulo por desconfiar dos candidatos ao governo. Esse número cresce entre os que têm 2º grau ou curso superior: 46% anularam ou votaram em branco por conta da desconfiança nos políticos. Texto Anterior: Igreja Universal elege bancada de 6 deputados e supera PRN e PSB Índice |
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