São Paulo, domingo, 16 de outubro de 1994 |
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Um trecho do mundo mítico do sertão
BERNARDO CARVALHO
Desde a construção do caminho da Santa Cruz pelo frei Apolônio de Todi, no final do século 18, o local se tornou um ponto de convergência para romeiros e passagem obrigatória para personagens como o Conselheiro ou Lampião. Hoje o caminho ainda fica coberto de romeiros na Semana Santa e no dia 1º de novembro, quando é feita a principal procissão. A mitologia de Monte Santo começa com os milagres do frei Apolônio e continuam com Antônio Conselheiro (que reformou a Via Sacra um ano antes de fundar Canudos) até Lampião que, segundo a lenda, teria feito o céu se escurecer ao chegar à cidade. ``Na primeira procissão, conta a tradição oral que aconteceu um furacão às três horas da tarde e que o frei Apolônio aplacou a fúria da tempestade com uma imagem barroca do Senhor do Amparo. Há 26 anos, na mesma data da procissão houve um novo furacão. A água subia pelos telhados e voltava, as árvores ficaram todas retorcidas", diz Hildegardo Cordeiro Amador Pinto, o ``seu" Dedega, descendente dos primeiros habitantes do povoado. ``Havia uma fonte de água mineral aqui. Agora ela salgou e ninguém sabe por quê. Acho que pode ser pelo desmatamento. Na época, todo mundo vinha aqui para beber água. As pessoas mostram mais o Nordeste seco. Mas aqui há períodos que são verdes e floridos", diz Dedega, que apresentou um levantamento sobre a vegetação da região durante a Eco-92. Quando o escritor peruano Vargas Llosa passou por Monte Santo, em 79, fazendo pesquisas para seu livro sobre a guerra de Canudos (``A Guerra do Fim do Mundo", ed. Francisco Alves), subiu a Via Sacra e comparou a vegetação local à da cordilheira dos Andes. ``Quando chegamos lá em cima, ele gritou: `Fantástico!', por causa da imensidão", diz Dedega. Texto Anterior: Havaianas na terra de Deus Próximo Texto: FOUCAULT ; POÉTICA Índice |
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