São Paulo, segunda-feira, 17 de outubro de 1994
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Aristide quer demissão de militares golpistas

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
DE WASHINGTON

O presidente do Haiti, Jean-Bertrand Aristide, deu ontem a primeira ordem da nova fase de seu governo: identificar e demitir todos os integrantes das Forças Armadas envolvidos em atos de tortura e morte de seus aliados.
Aristide pretende reduzir o contingente das Forças Armadas em 80%: dos 7.500 homens atuais para apenas 1.500.
Alguns observadores acham que talvez ele não consiga achar 1.500 militares, tão grande é o número dos que por conta própria resolveram deixar o uniforme e passar para a clandestinidade.
A maioria absoluta das missas nas igrejas católicas ontem foi dedicada à expressão do desejo de boa sorte para Aristide, que retornou ao poder no sábado, após exílio de três anos e quinze dias.
O apoio da Igreja Católica é a primeira importante vitória política de Aristide depois de sua volta.
Ele é um sacerdote salesiano suspenso de suas funções há dez anos por acusação de incitamento à luta de classes. O Vaticano foi o único país que reconheceu o governo liderado por Raoul Cedras.
A hierarquia da Igreja foi uma das maiores fontes de problema para ele nos sete primeiros meses de governo, encerrados com o golpe militar de setembro de 1991.
Agora, a cúpula católica do país resolveu dar crédito de confiança ao presidente, em parte por achar que ele está contido em seus ideais socialistas pelo fato de dever sua volta ao governo dos EUA.
Pelo menos uma pessoa morreu durante as comemorações de sábado pelo retorno de Aristide. Ontem, mais dois corpos foram encontrados, aparentemente esfaqueados, disseram testemunhas.
Apesar de os partidários de Aristide terem festejado o fim do regime militar, o número de pessoas que compareceu ao primeiro discurso do presidente, no sábado, foi menor do que o esperado.
O comando militar dos EUA no Haiti acha que sua prioridade agora é garantir a segurança pessoal de Aristide. O pior cenário futuro possível para os militares dos EUA seria o seu assassinato.
Os EUA também tentam dar melhores condições materiais de trabalho para Aristide, que ontem contava com apenas uma linha telefônica no palácio presidencial.
Pelo menos US$ 500 milhões vão ser aplicados na infra-estrutura do país nos próximos quatro meses. A Agência para o Desenvolvimento Internacional, órgão do governo dos EUA, espera criar 50 mil empregos nesse período.

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