São Paulo, segunda-feira, 17 de outubro de 1994
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Por que Covas

ANTONIO KANDIR

Em São Paulo vamos ter segundo turno. Boa oportunidade para demarcar diferenças políticas relevantes e esclarecer ainda melhor os paulistas sobre a importância de elegermos Mário Covas. Para todos os que querem uma boa gestão pública em São Paulo, é hora, portanto, de arregaçar as mangas, afiar os argumentos e, cada qual a seu modo, construir as condições de uma grande vitória.
Para que haja boa gestão pública em São Paulo é preciso romper definitivamente com um padrão de governo que não só agride a tradição de competência técnica e vontade de servir que a administração paulista acumulou ao longo da história republicana, como também é incompatível com a estabilidade econômica do país e o desenvolvimento sustentável de São Paulo.
Todos sabemos quais são as marcas registradas desse padrão de governo: desbragado loteamento da máquina para fins políticos, endividamento temerário do Estado, ausência de visão estratégica de longo prazo.
Mário Covas representa, a um só tempo, a garantia de interromper-se esse processo de degradação do governo paulista e a certeza de um importante salto de qualidade quanto às metas e procedimentos da administração pública. Nosso Estado, as pessoas que aqui vivem, precisam que São Paulo dê esse salto e o dê agora, para redefinir seu papel e seu lugar no desenvolvimento nacional.
Já vai longe o tempo em que concentrávamos mais de 50% do PIB industrial. O Estado não detém hoje mais do que 40%. Essa queda, que reflete um processo inevitável e positivo de desconcentração econômica, coloca desafios que não têm sido enfrentados adequadamente, por falta de visão estratégica quanto aos objetivos e de vontade política para forjar os instrumentos necessários para alcançá-los.
Mário Covas definiu-os ambos, objetivos e instrumentos, com a devida clareza. O objetivo fundamental é fortalecer São Paulo naquilo que o Estado tem de melhor, estabelecendo um círculo virtuoso em que conhecimento, tecnologia e qualidade de vida se alimentem mutuamente.
O instrumento decisivo é uma profunda transformação da administração pública paulista, em suas estruturas e métodos de trabalho. Não só para colocar a casa em ordem financeiramente, mas também para restituir ao governo capacidade de planejar e executar políticas em parceria com o setor privado e organizações comunitárias.
A definição do objetivo estratégico parte da constatação correta de que não mais concentramos, como no passado, todos os elos e segmentos do processo produtivo, já que outros Estados criaram as condições para atrair várias empresas industriais, agroindustriais e de serviços.
Frente a esse novo quadro, em que são mais niveladas as condições da competição, São Paulo deve empenhar todas as suas energias para manter e desenvolver aqui os segmentos tecnologicamente mais avançados.
Para o desenvolvimento desses setores continuamos a ostentar vantagens competitivas cruciais, sendo portanto estratégico investir recursos e criatividade para reforçar essas vantagens competitivas que constituem o nosso diferencial em relação a outros Estados.
São Paulo tem o que é fundamental para os setores tecnologicamente mais avançados: as melhores universidades do país, centros de pesquisa aplicada comparativamente importantes, a melhor rede de assistência técnica, mão-de-obra mais qualificada, ampla rede de micro e pequenas empresas que permitem terceirizar atividades com ganhos de qualidade e produtividade, consumidores atentos e exigentes, enfim, os elementos necessários ao desenvolvimento de processos produtivos nos quais o conhecimento, nas suas várias formas, acadêmico ou técnico, aplicado ou experimental, faz a diferença.
Esse é o principal patrimônio que São Paulo acumulou ao longo de sua história, mas que tem sido mal aproveitado, desperdiçado, quando não destruído, por falta de visão estratégica, tremenda ``partidarização" da máquina do Estado e ausência de vontade política para modernizar a gestão pública de modo corajoso e inovador.
O resultado não poderia ser outro senão o que temos observado ano após ano, em tendência que se pode revelar trágica no longo prazo: perda de importância econômica, de empregos, de dinamismo, de qualidade de vida, com a fuga de empresas e a preferência por outros Estados para realização de novos investimentos.
São Paulo precisa mudar essa tendência. Não para restabelecer um padrão concentrado de desenvolvimento como no passado, pois que esse padrão já foi definitivamente enterrado. Mas para redescobrir, apoiado em suas potencialidades mais dinâmicas e promissoras, seu lugar num novo momento da história política e econômica do país. Não em antagonismo arrogante com outros Estados, mas com lucidez, probidade e competência na gestão da coisa pública, resgatando a melhor tradição de São Paulo.
Nas eleições presidenciais, o Brasil, e com ele nós paulistas, dissemos um não rotundo às velhas práticas políticas. Prova disso são os mais de 50 milhões de votos dirigidos a Fernando Henrique e Luiz Inácio Lula da Silva.
Em São Paulo, no próximo dia 15 de novembro, vamos completar essa vitória. Vamos mesmo ampliá-la, mostrando que ela pode ser de todas as forças reformistas modernas. Vamos juntos eleger Mário Covas governador de São Paulo.

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