São Paulo, terça-feira, 18 de outubro de 1994
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Filho confessa ter degolado os pais

CARLOS ALBERTO DE SOUZA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM PORTO ALEGRE

Carlos Alberto Pinto Oliveira, 35, confessou ontem ter sido o autor dos golpes de faca que mataram seus próprios pais, Carlos Corrêa Oliveira, 65, que era diretor-presidente da Companhia Vinícola Riograndense, e Nilza, 68.
D data do crime, dia 10, até ontem, Carlos Alberto dizia ser o mandante e acusava o ex-soldado da Polícia Militar Luciano Jarczewski, 22, de ser o autor das facadas.
Carlos Alberto manteve essa versão mesmo depois de ser colocado frente a frente com Jarczewski, que foi preso no domingo em Santa Catarina.
``Eu degolei meus pais", disse Carlos Alberto em um novo depoimento à polícia na manhã de ontem. Ele afirmou que inicialmente tinha ``ódio" do seu pai e que depois também passou a odiar a mãe. Carlos Alberto disse estar ``aliviado" com a confissão.
O rapaz disse que decidiu matar os pais porque eles descobriram seu envolvimento em casos de estelionato, entre os quais a falsificação de documentos de um carro Verona de um tio já morto, que Carlos Alberto vendeu. Antes, ele queixava-se de ``rejeição".
Carlos Alberto disse que atacou seus pais, que dormiam no quarto da casa da família no bairro Bela Vista, com uma faca. Depois que o casal, ferido, não conseguia mais reagir, ele foi até a cozinha, pegou outra faca e degolou pai e mãe.
Jarczewski, que segurou Oliveira e a mulher para o filho esfaqueá-los, disse que foi à casa porque Carlos Alberto o contratou para que roubasse documentos, entre os quais os do carro Verona, e cerca de US$ 20 mil do empresário.
Carlos Alberto confirmou, no depoimento, que Jarczewski não sabia do crime. Durante o esfaqueamento, o ex-PM acabou segurando o empresário e sua mulher, tentando impedir os gritos.
O delegado Cleber Ferreira, que cuida do caso, disse que vai indiciar Carlos Alberto e Jarczewski por homicídio duplo qualificado. Eles podem pegar até 60 anos de prisão, cada um.
Também será indiciado como co-responsável Raul Tito Monaco, 27, cunhado do ex-PM, que levou os dois de carro à casa. Monaco comprou o Verona.
Monaco disse que não sabia que Carlos Alberto tinha intenção de matar, o que é ratificado pelo rapaz. Mas o delegado disse que Monaco conhecia o plano.
Aparentando tranquilidade, Carlos Alberto disse que uma das facadas abriu ``uma torneirinha" de sangue no ombro de seu pai. Ele disse que para degolar seus pais se apoiou no ombro deles, passando a faca pela garganta. Ao ser atacado, o pai teria perguntado algo como ``por que isso?"
O rapaz disse que não conseguiria fazer com uma pessoa estranha o que fez com seus pais.
Oliveira, além do corte na garganta, tinha 35 lesões no corpo entre facadas e hematomas. Nilza, antes de ser esfaqueada, levou uma pancada na cabeça. Carlos Alberto, estudante de farmácia e discotecário desempregado, mede 1,95 m e pesa cerca de cem quilos.
O rapaz disse que resolveu confessar o crime depois que Jarczewski foi preso. ``Eu esperava que não o achassem."
Como o ex-PM foi preso, ele disse que decidiu confessar. ``Eu estava tendo pesadelos." Em um deles, seu pai aparecia na porta da cela dizendo que iria tirá-lo dali e que sua mãe esperava por ele.
O rapaz disse que a confissão lhe deu uma sensação de alívio, comparável à que sentiu na hora em que degolou os pais. ``Tirei um peso da consciência, tal era a pressão que eles me faziam."
Carlos Alberto, ao responder a um repórter, disse que aconselharia os pais a dialogarem com seus filhos.

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