São Paulo, terça-feira, 18 de outubro de 1994
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BC muda política de câmbio

FIDEO MIYA; JOÃO CARLOS DE OLIVEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

O Banco Central (BC) surpreendeu ontem o mercado de câmbio. Pela primeira vez desde o real, com três leilões, o BC fez a cotação do dólar comercial (exportações e importações) subir e não apenas tentou impedir que a queda fosse mais pronunciada.
O dólar fechou cotado a R$ 0,845 na venda, 1,93% acima do preço de fechamento anterior (R$ 0,829), depois de ter sido negociada a R$ 0,850, na máxima do dia.
No primeiro leilão, às 10h03, o BC comprou a R$ 0,826. No segundo leilão, às 10h31, o BC comprou a R$ 0,826.
A surpresa ocorreu na terceira intervenção, às 15h23. O BC comprou a R$ 0,838, apesar do dólar estar sendo negociado a R$ 0,831.
Segundo estimativas do mercado, o BC, presidido por Pedro Malan, comprou aproximadamente US$ 250 milhões. Esta emissão de reais (quando o BC compra dólares, ele emite reais) será ``enxugada" no leilão de hoje de títulos públicos.
Para muitos analistas, como Fábio de Oliveira, do banco de Boston, o governo mudou a política.
Para ele, o governo está preparando o lado do câmbio para poder elevar as taxas de juros internas. ``Ele está contornando uma armadilha. Se aumentasse os juros sem novas medidas, o câmbio valorizaria ainda mais."
Oliveira diz que o governo será obrigado a aumentar os juros para controlar a demanda e a inflação. Ele acredita que o aumento do compulsório poderia ter limitado a demanda, ``mas a medida não pode ser implementada completamente por causa de problemas nas instituições estaduais".
Ele, porém, não acredita que o governo venha a sustentar as cotações do câmbio exclusivamente comprando dólares e vendendo títulos para ``enxugar" a emissão de reais. ``O BC deve limitar o ingresso de capitais, com aumento do IOF."
Alberto Alves Sobrinho, diretor da Fair Corretora, também duvida que o BC fique restrito aos leilões.
Ele suspeita que o BC possa adotar medidas para obrigar os importadores a comprar dólares.
Já o diretor da NGO Corretora de Câmbio, Sidnei Nehme, faz parte de uma corrente do mercado que acredita que o governo comprou barato ontem para vender mais caro adiante.
O ex-presidente do BC Affonso Celso Pastore é também cauteloso na avaliação. ``O BC puxou a taxa de câmbio, o que não vinha fazendo. Mas é cedo para se dizer se a âncora monetária foi para o espaço. Temos que ficar espiando."

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