São Paulo, terça-feira, 18 de outubro de 1994
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Pela ética na OAB - 2

LUÍS NASSIF

A maneira como José Roberto Batochio assumiu o controle da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), instituição que poucos anos atrás era vista como campeã dos direitos civis, é significativa para se entender os descaminhos que tomaram conta da chamada sociedade civil organizada.
Batochio era vice-presidente de Antônio Mariz na OAB São Paulo. Havia ganhado nome como criminalista, advogando quase exclusivamente para contraventores, como o banqueiro do bicho Ivo Noal, e narcotraficantes.
Em 1988 rompeu com Mariz e lançou-se candidato à presidente da OAB-SP. Foi derrotado. Nos anos seguintes, porém, a OAB-SP deixou-se politizar, com vários de seus diretores aceitando cargos no governo Quércia.
Valendo-se do desgaste sofrido por Mariz –que assumiu a Secretaria de Segurança de Quércia– Batochio candidatou-se novamente à presidência da OAB-SP em 1990 e acabou eleito.
Sua campanha foi centrada na crítica a essa cumplicidade entre OAB e poder, na promessa de redução das contribuições à OAB e em ataques impiedosos aos adversários.
Curiosamente, Batochio só empalmou a bandeira da luta contra as vinculações políticas da OAB-SP com o governo do Estado depois de perder sua chance. Enquanto diretor de Mariz, havia alimentado esperanças de tornar-se ele próprio Secretário de Segurança. Morreu pela boca.
Na ocasião, era advogado do delegado Jacyr Damiani, ligado a uma quadrilha de sequestradores. Indagado sobre o que faria com o delegado, caso se tornasse efetivamente Secretário de Segurança, Batochio respondeu que iria arquivar o processo administrativo e reintegrá-lo no cargo. A imprudência, que rendeu chamada de primeira página em "O Estado de S. Paulo", custou-lhe a indicação.
Presidente da OAB-SP
Nas eleições, Batochio recorria a expedientes que não poderiam ser considerados como exemplos para sua futura campanha "pela ética na política". Desde ameaças de revelar aspectos da vida pessoal de adversários, até a bravatas tipo }se eu ganhar a eleição, você nunca mais vai aparecer na advocacia, conforme atesta seu adversário Ciro Kusano, que também combatia a antiga situação.
Depois de sua posse, pela primeira vez na história da Ordem ocorreu um movimento grevista, com funcionários em manifestações de rua, batalhando pelo piso salarial –que Batochio recusava-se a pagar– mas, principalmente, reagindo contra sua prepotência.
Batochio apenas começava a aparecer. Nos anos seguintes, já com o controle da máquina da OAB-SP, seu estilo tornar-se-ia explícito, especialmente na campanha pela sua sucessão e na tomada do controle da OAB Brasil.

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