São Paulo, terça-feira, 18 de outubro de 1994
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Flórida vira república das bananas em livro

MAURICIO STYCER
DA REPORTAGEM LOCAL

Graças ao escritor e jornalista Carl Hiaasen (pronuncia-se ``rái-assen"), o mundo descobriu que a Flórida é uma espécie de sucursal norte-americana da ``república das bananas".
Desde ``Caça aos Turistas", lançado nos EUA em 1986, Hiaasen vem desmontando, peça a peça, a reputação de um dos principais –e mais queridos– destinos de turistas brasileiros no exterior.
Ex-repórter investigativo do jornal ``Miami Herald", onde hoje assina uma coluna duas vezes por semana, Hiaasen achou um lugar ao sol no mercado literário ao temperar o romance policial com um humor e cinismo devastadores.
Com cinco livros publicados, e um sexto em preparação, o escritor aguarda apenas, para a definitiva consagração, que Hollywood consiga adaptar alguma de suas histórias malucas para as telas.
``Strip-tease", que a Companhia das Letras lança hoje no Brasil, é o último romance de Hiaasen. A mesma editora publicou, em 93, o livro de estréia do escritor, ``Caça aos Turistas".
Há uma semana, Hiaasen, 41, falou à Folha , por telefone, de Isla Morada, na Flórida:

Folha - Lendo ``Strip Tease", tem-se a impressão que a Flórida é uma espécie de ``república das bananas". É dessa maneira que o sr. vê o seu Estado?
Carl Hiaasen - (rindo) Em certas ocasiões, o sul da Flórida exibe as mesmas qualidades exóticas de uma ``república das bananas".
Folha - O sr. já disse que ``não há nada de errado no sul da Flórida que um furacão não possa consertar". Falando assim, o sr. se parece com o colunista de jornal que virou terrorista em ``Caça aos Turistas". Ele é o seu alter-ego?
Hiaasen - Skip Wiley (nome do personagem) faz alguns discursos no romance que eu gostaria de ter feito. Mas você deve levar em conta que eu era um repórter quando inventei Skip. Talvez eu tenha me baseado nele para me ``inventar" como colunista.
Folha - Alguns de seus personagens, como o ladrão de cadeiras de rodas, de ``Strip-tease", ou o índio maluco, de ``Caça aos Turistas", foram de alguma forma inspirados na sua experiência como repórter? Ou são apenas produto da sua imaginação?
Hiaasen - Essa gente existe, claro! Depois da publicação de ``Strip-tease" nos EUA, fui a um programa de TV e uma garota contou que a sua cadeira de rodas foi roubada num hospital enquanto ela era atendida pelo médico.
O desafio, aqui no sul da Flórida, é imaginar alguma coisa mais extraordinária do que realmente aconteceu –e isso é muito difícil.
Folha - O sr. acha que o romance policial é uma forma efetiva de denunciar os problemas que o sr. mostra em seus livros, como corrupção policial ou poluição industrial?
Hiaasen - Não sei. Acho que qualquer romance tem a obrigação, em primeiro lugar, de divertir os leitores. Não quero fazer discursos. Mas se, além de divertir, você for capaz de retratar a sociedade em que você vive, melhor.
Folha - Ainda há alguma coisa sobre o sul da Flórida que o sr. não escreveu?
Hiaasen - Sempre tem. Estou escrevendo agora um livro sobre o último furacão. É uma oportunidade de mostrar os níveis de roubo, oportunismo e desonestidade que vieram à tona com o furacão.
Folha - Por exemplo?
Hiaasen - Soldados do Exército, enviados para ajudar os desabrigados, foram obrigados a levar suas armas descarregadas para evitar possíveis acidentes. Mas, a certa altura, um grupo de militares foi cercado por um grupo de traficantes, armados com armas automáticas, dispostos a roubar as armas dos soldados. Obviamente, depois desse episódio os miltares foram autorizados a carregar suas armas.
Folha - O sr. sabia que a Flórida é o destino número um de turistas brasileiros no exterior?
Hiaasen - Não sabia. Presumo que gostem da região. Posso dizer que são corajosos de vir para cá.
Folha - Nos seus livros, o humor e a sátira parecem tão importantes quanto a trama.
Hiaasen - É verdade. Eu normalmente começo a escrever a partir de um elenco de personagens que me serão úteis em termos de humor e sátira. Depois, eu construo a trama ao redor desses personagens. Para mim, é maior o desafio de prender o leitor pelo humor e não apenas pelo suspense.
Folha - Os seus livros já foram vendidos para Hollywood?
Hiaasen - Já. Mas você sabe, eles compram os direitos, mas não garantem que filmarão o livro.
Folha - O sr. realmente acha que as suas histórias poderão ser filmadas? Elas não são um pouco críticas demais para isso?
Hiaasen - De modo algum. O problema que existe é prático. Os roteiros, de uma maneira geral, são muito lineares e simples. Sei que querem fazer filmes com os meus livros, mas é difícil fazer as cirurgias necessárias para colocá-los no formato de Hollywood.
Folha - O sr. não desaprovaria uma cirurgia dessas?
Hiaasen - É duro. Ninguém gosta de ver uma palavra do seu trabalho mudada, mas sou realista.

Livro: ``Strip-Tease"
Autor: Carl Hiaasen
Preço: R$ 18,90 (400 págs.)

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