São Paulo, quarta-feira, 19 de outubro de 1994
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Médico diz que estudante não é 'serial killer'

DA FOLHA VALE*

O laudo psiquiátrico de Gustavo Pissardo, 21, que confessou ter matado cinco pessoas da família, foi entregue ontem pela equipe médica do hospital Chuí, em São José dos Campos, ao advogado José Carlos de Oliveira.
O laudo foi feito a pedido de Oliveira, que irá usá-lo na defesa. O advogado tentará alegar insanidade mental do estudante.
O laudo, assinado por uma junta de nove médicos, conclui que Pissardo sofre de insanidade mental e deve ficar internado em um hospital-prisão.
O psiquiatra Alcimar Souza Lima, 42, professor do Instituto Sedes Sapientiae (São Paulo) e membro da equipe que analisou Pissardo por sete dias, disse que se baseou no ensaio ``A cisão do ego como mecanismo de defesa", escrito por Sigmund Freud, em 1938.
Segundo o médico, Freud mostra que existe no ser humano uma ``região fronteiriça" entre a lucidez e a loucura. ``Existe um lado do eu psíquico que tem noção do que está acontecendo e um outro que não." A pessoa alterna momentos de lucidez e de ``loucura".
Pissardo foi submetido há pouco mais de dez dias a um exame de tomografia computadorizada, que apontou uma lesão no cérebro que pode ter relação com comportamentos alterados.
Para Alcimar Lima, Pissardo tinha pelo pai, Gumercindo, sentimentos de admiração e submissão.
``Submissão porque o pai era muito enérgico e isso gerava medo. Esse dualismo, associado a uma anomalia, foi o que desencadeou a série de assassinatos", diz.
Para o psiquiatra José Thomé, 48, professor do Instituto Sedes Sapientiae, a explicação psicanalítica é muito simplista para o crime de Pissardo, embora não possa afirmar nada categoricamente porque não analisou o estudante.
``Pelo que li sobre o caso, acredito que ele tenha vivido um estado crepuscular da hipnose epiléptica. Quando isso acontece, a pessoa pode cometer atos e não se lembrar depois", disse Thomé.
Segundo o especialista, é difícil pensar que o caso não tenha uma causa física. ``O exame mostra uma alteração no cérebro. A medicação para dor de cabeça que o garoto diz ter tomado pode ter ativado o foco e causado um sono epiléptico", afirmou Thomé.

Colaborou a Reportagem Local

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