São Paulo, quarta-feira, 19 de outubro de 1994
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Americanos refilmam ``Boca de Ouro"

HELENA SALEM
ESPECIAL PARA FOLHA

Uma refilmagem da peça ``Boca de Ouro", de Nelson Rodrigues, agora numa co-produção Brasil-Estados Unidos e apenas inspirada no texto original, foi exibida pela primeira vez no recente Festival Internacional do Filme de Toronto, no Canadá.
Intitulado simplesmente ``Boca", tem produção-executiva de Zalman King (``Nove Semanas e Meia de Amor" e ``Orquídea Selvagem") e Joffre Rodrigues (filho de Nelson) como co-produtor brasileiro.
Mais uma vez, Tarcísio Meira é o protagonista interpretando o bicheiro Boca de Ouro, como na versão de 1989 dirigida por Walter Avancini.
O filme –falado em inglês, com pequenas inserções em português– conta também com outros atores brasileiros, entre eles Carlos Dolabella, Nelson Xavier, José Lewgoy, Anselmo Vasconcelos, e as atrizes Denise Milfont, Ruth de Souza, Luma de Oliveira, Maria Padilha e Betty Gofman.
A fotografia é de Carlos Egberto e Pedro Farkas, assistência de direção de Tania Lamarca, coreografia de Marcia Brito, casting de Denise del Cueto, e na mixagem de som Juarez Dagoberto, além de muitos outros nomes brasileiros que figuram na equipe técnica.
Rodado entre abril e julho do ano passado, no Rio de Janeiro, esta é a terceira vez que a peça é levada ao cinema. A primeira versão (e também o primeiro texto do dramaturgo que virou filme) foi feita em 1962, por Nelson Pereira dos Santos e protagonizada por Jece Valadão.
Joffre Rodrigues foi o produtor da segunda versão, dirigida por Walter Avancini, que adaptava a história para os tempos atuais, introduzindo a questão do tráfico de drogas que não figurava no texto original.
Na atual versão, que se inspira mais no marginal Boca de Ouro do que na própria história criada por Nelson, um casal de jornalistas americanos –a repórter J.J. (Rae Dawn Chong) e o câmera Reb (Martin Kemp)– vem ao Brasil para fazer uma reportagem sobre as matanças de meninos de rua.
J.J. está convencida de que, se identificar os responsáveis pelas mortes, poderá ganhar o cobiçado Prêmio Pulitzer de Jornalismo. No meio da trama, aparece também o agente da CIA Jesse James Montogmmery (Martin Sheen).
Belas paisagens, mulheres bonitas, a miséria das favelas, drogas, muito sexo, carnaval, macumba, são os ingredientes exoticamente atribuídos ao Brasil.
Dirigido por René Manzor, de 34 anos, cineasta francês que vive nos EUA, ``Boca" na verdade é um projeto de produtores.
O projeto de fazer um filme sobre a morte de meninos de rua no Brasil teria surgido quando Zalman King realizava ``Orquídea Selvagem" no Brasil.
No decorrer das pesquisas, ele conheceu a segunda versão, de Avancini. O material de divulgação distribuído no Festival de Toronto afirma que a linha mestra de ``Boca" ``não foi o Orfeu Negro de Marcel Carné, mas `Los Olvidados' de Bu¤uel" –uma proposta, sem dúvida, ambiciosa.
Nelson Rodrigues é qualificado como ``um homem da estatura de Tennessee Williams e Arthur Miller juntos" –o que, no entanto, não impediu que Ed Silverstein, autor do roteiro, abandonasse completamente o espírito do peça, explorando o grotesco.
Várias são as modificações do texto original. Na peça de Nelson, há o personagem de um repórter, que procura a ex-amante de Boca (um dia após o seu assassinato) na tentativa de entender a figura polêmica do bicheiro.
A amante conta então três versões da vida de Boca, deixando no ar a questão: quem teria sido realmente aquele misto de herói e contraventor?
Agora, são dois os jornalistas, que vivem um caso amoroso, enquanto as três versões da história foram suprimidas, restando apenas uma, linear. E foi introduzida a matança de meninos de rua.

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