São Paulo, quarta-feira, 19 de outubro de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

BBS norte-americanos vendem de sexo a Bíblia pelo computador

MARINA MORAES
ESPECIAL PARA A FOLHA, DE NOVA YORK

Muita gente já teve essa experiência na faculdade: deixar um recado num quadro de avisos procurando alguém para dividir apartamento, parceiro para jogar tênis ou comprador para um carro usado.
Foi a partir desse princípio, casado com a tecnologia dos computadores, que nasceu nos Estados Unidos a indústria dos BBS (bulletin board systems), quadros de aviso eletrônicos por meio dos quais os usuários trocam informações sobre determinado assunto.
Um levantamento recente mostrou que nos Estados Unidos existem mais de 3.000 boletins eletrônicos. Das Catacumbas do Colorado (001 303 678-9939), onde você pode se informar sobre a Bíblia, à Torre de Marfim (001 305 860-0307), onde se fala de sexo.
Montar o próprio BBS requer um investimento razoável, dependendo do objetivo de quem quer se tornar operador de sistema. Além de um bom computador, um modem poderoso e uma linha telefônica dedicada, a estimativa é de um gasto de US$ 3 mil a US$ 20 mil em equipamento adicional e dinheiro para fazer publicidade.
Os puristas, que rejeitam a idéia de fazer comércio, montam seus boletins apenas como um hobby. Late Night with Dave, por exemplo, oferece acesso gratuito para que os fãs do talk-show mais popular do país façam fofoca sobre David Letterman, o equivalente americano de Jô Soares.
Você liga via modem e fica sabendo, por exemplo, das piadas que fizeram sucesso no programa da noite anterior.
Nessa categoria existem centenas de boletins, em que você gasta apenas o dinheiro da ligação telefônica. Produtores Independentes, da Califórnia, serve como um centro para cineastas em início de carreira; O Ônibus Mágico, de Michigan, é dedicada aos budistas; na Tree Branch Co., de Nova York, o assunto é o meio ambiente.
Cada vez mais, no entanto, os boletins têm objetivos puramente comerciais. Os BBS que falam sobre sexo são de longe os mais rentáveis. Eles cobram assinatura para permitir que os usuários tenham acesso, por exemplo, a arquivos fotográficos de deixar qualquer sadomasoquista com água na boca.
Eye Contact, que se propõe a ``conectar os gays da América pelo computador", é outro serviço que fatura alto. Nele, é possível procurar parceiros e consultar um arquivo com 20 mil fotos ``proibidas para menores de 18 anos".
The Ultimate Connection, de Nova York, apesar de gratuito, faz a ligação entre os infomaníacos solitários e centenas de mulheres, cujas fotos é possível ver antes de marcar o encontro.
Antes que vocês pensem que BBS é coisa de tarado, há uma longa lista de outros serviços prestados pelos boletins. Traders'Connection, por exemplo, oferece mais de meio milhão de classificados para quem quer comprar e vender antiguidades, barcos, carros e todo tipo de bugiganga.
No mundo virtual que os fãs da cibernética enxergam para o futuro os BBS terão um papel cada vez mais importante. Centros eletrônicos onde o americano fará amigos, fechará negócios e conseguirá informações sobre assuntos de seu interesse. E até um casamento.

Texto Anterior: Versão 3.0 de antivírus faz detecção em redes; Microtec tem novo servidor com Pentium
Próximo Texto: Piano pode tocar 'sozinho'
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.