São Paulo, quinta-feira, 20 de outubro de 1994
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Polícia não sabe se mortos eram traficantes

CRISTINA GRILLO
DA SUCURSAL DO RIO

Mais de 24 horas depois de policiais terem invadido a favela Nova Brasília (zona norte do Rio) e matado 13 pessoas, a Divisão de Repressão a Entorpecentes (DRE) ainda não sabia se os mortos eram ou não traficantes.
``Tenho um funcionário no Instituto Félix Pacheco verificando se os mortos tinham antecedentes criminais, mas o levantamento só deve ficar pronto sexta-feira", disse o delegado Maurílio Moreira, diretor da DRE e responsável pela invasão da favela na terça-feira.
A polícia invadiu a favela após ataque de supostos traficantes à delegacia de Bonsucesso em que três policiais ficaram feridos.
Oito dos mortos foram enterrados ontem à tarde no cemitério de Inhaúma (zona norte). Para evitar tumultos, a direção do IML decidiu liberar os corpos aos poucos.
``Um enterro coletivo poderia acabar em tumulto", disse o diretor do IML, Alexandre Maluf Cavalcanti.
Robson Genuíno dos Santos, 30, Ranílson José de Souza, 21, Alberto Ramos dos Santos, 24, e Alex Viana dos Santos, 17, mortos na favela, foram velados na Casa Comunitária da favela da Varginha, em Bonsucesso.
Ranílson foi reconhecido por amigos em uma imagem mostrada por uma emissora de TV.
``Ele apareceu na televisão preso e depois morreu. A polícia matou depois que ele foi preso", afirmou uma mulher que preferiu não se identificar por ter medo de represálias.
A mãe de Ranílson, moradora da favela da Varginha, disse que não via o filho havia um mês. Ele estava desempregado havia um ano.
Todos os corpos foram retirados do local onde foram baleados, dificultando a perícia.
Segundo parentes, oito policiais teriam invadido a casa da tia de Robson dos Santos, outro morto, às 5h30. ``Ele foi algemado, bateram nele, tiraram ele da casa e levaram para um barranco. Aí ele foi morto", afirmaram.
Alberto dos Santos também teria sido retirado de casa e morto por policiais, segundo parentes.

Luto
O comércio da favela Nova Brasília não abriu ontem. Havia faixas pretas, em sinal de luto, na entrada do local. As poucas pessoas que circulavam pelas ruas evitavam falar sobre as mortes.
``Aqui ninguém fala nada com jornalistas", disse uma mulher, que não quis se identificar.
A maioria das casas da favela é de alvenaria –algumas até com mais de um andar. Segundo a polícia, o tráfico na região seria controlado pelo traficante Ernaldo Pinto de Medeiros, o Uê.

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