São Paulo, sexta-feira, 21 de outubro de 1994
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Faltam as reformas

A inflação mensal de 2% apurada até dia 15 pela Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas) e a projeção de que o índice de outubro registrará uma alta próxima a 3% não são catastróficas. Mesmo assim, mostram que o proceso de estabilização encontra-se em um momento especialmente delicado, que demanda do governo um comportamento atuante.
Hoje, a batalha contra a inflação envolve não só a variação dos preços, mas a formação das expectativas em relação ao futuro da economia. A decisão dos agentes de aumentar a produção depende de uma aposta sobre o desempenho que terá o plano. Naturalmente, essa avaliação não se faz às cegas. Ela depende do grau de confiança que o governo for capaz de gerar.
A demora em dar andamento à reestruturação do Estado, a falta de empenho em iniciar reformas como a do sistema tributário e da Previdência e em rever o atual pacto federativo, pode abalar a confiança na estabilidade. A indefinição a respeito da quebra de monopólios e da velocidade e amplitude do processo de privatização prejudicam a formação de expectativas favoráveis à consolidação do Plano Real. Por isso a evolução geral da inflação depende das iniciativas do Executivo e da acolhida que estas tiverem no Congresso Nacional.
Se o governo mostrar à sociedade –através de atos concretos e não apenas por meio de acenos ainda imprecisos– que encaminhará com energia as reformas que se fazem necessárias à sustentação de uma moeda estável, o país poderá apostar mais firmemente na estabilização. Se a administração federal mostrar-se titubeante ou excessivamente morosa, crescerá a tendência à reindexação da economia e à adoção,
pelos agentes, de comportamentos defensivos.
Em situações de indefinição, as empresas mantêm-se retraídas. A alternativa de fazer novos investimentos e aumentar a capacidade produtiva depende da existência de um horizonte claro. Ambiente que o governo ainda está por construir.

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