São Paulo, sexta-feira, 21 de outubro de 1994
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Narcotráfico na agenda

CLÓVIS ROSSI

SÃO PETERSBURGO – O presidente eleito Fernando Henrique Cardoso contou ontem que, na primeira reunião do Ministério Sarney (1985), o então chanceler Olavo Setúbal fez uma exposição sobre o narcotráfico.
``Ficava todo mundo olhando para ele como se tivesse chegado da Lua recentemente", brincou FHC, para deixar claro que o tema era, então, uma questão muito mais de polícia do que de Chancelaria.
Não é mais. Subiu até um degrau adicional na hierarquia e fará parte da agenda da própria Presidência, na gestão que começa em janeiro. Até porque é um tema inevitável da Cúpula das Américas, que o presidente norte-americano Bill Clinton convocou para 9 a 11 de dezembro.
``O narcotráfico tem que ser atacado por meio de uma ação mundial", acha o presidente eleito do Brasil, que se dispõe a colaborar plenamente com os Estados Unidos na matéria.
``O fato de se ter colaboração com um país importante não reduz nossa soberania", avisa FHC desde já.
O que transforma o narcotráfico em ponto da agenda presidencial é o Rio de Janeiro. Explico: a visão que FHC tem do problema da violência no Rio é a de que a origem maior da questão está longe do Rio. Está no crime organizado, que por sua vez tem no narcotráfico uma de suas principais fontes de rendimento.
Ora, o Rio é uma fortíssima inquietação de FHC, que ele deixa clara em cada conversa que vem tendo com os jornalistas.
Se é assim, é natural que considere fundamental uma colaboração global. No caso da Cúpula das Américas, mais fundamental ainda, dado que estarão presentes representantes dos países produtores de matéria-prima da cocaína (Bolívia, Peru), dos países processadores (Colômbia) e o anfitrião é justamente o maior mercado consumidor.
O Brasil fica no caminho. ``É um país-corredor. Temos que evitar que esse corredor se perpetue ou se expanda", diz o presidente eleito.

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