São Paulo, sábado, 22 de outubro de 1994
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Clássicos da MPB reencarnam em CDs

RUY CASTRO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Hosanas e aleluias ao CD. Só ele faria com que grandes LPs do passado, que dificilmente voltariam à Terra na sua encarnação original, estejam de novo entre nós. Três desses CDs acabam de sair, sem que suas gravadoras tenham dado um mísero suspiro para divulgá-los.
Os discos são ``Samba na Madrugada" (RGE), de 1967, com Paulinho da Viola e Elton Medeiros; ``Tom, Vinicius, Toquinho e Miúcha" (Sigla), gravado ao vivo no Canecão em 1977; e ``Lucio Alves e Ana Luíza, Januária, Lígia etc" (BMG/RCA), o último grande disco de Lucio, de 1975, que volta sem título na coleção ``Acervo Especial" –menos mal.
``Samba na Madrugada" só não foi o primeiro disco de Paulinho de Viola porque, pouco antes, ele já aparecera em dois LPs do grupo A Voz do Morro e nos do show ``Rosa de Ouro". E, embora ``Samba na Madrugada" também não fosse um LP individual, deu um susto nos mais desatentos.
Ali estava um jovem compositor e cantor ``tradicional", mas com uma refinada modernidade lírica e melódica que se supunha, na época, exclusiva da bossa nova. De certa forma, suas primeiras obras-primas, como ``Arvoredo", ``14 anos", ``Minhas Madrugadas", ``Jurar com Lágrimas" e outras, eram uma espécie de ``bossa nova" do velho samba.
E o jeito de cantar de Paulinho, que assombrou a muitos –de onde ele tirou aquela delicadeza?–, hoje parece claro: do Orlando Silva da grande fase, de 1935 a 1942.
Elton Medeiros não teve a carreira de Paulinho. Mais conhecido então como parceiro de Zé Keti (``Mascarada") e Cartola (``O Sol Nascerá"), era ótimo ouvi-lo em sambas só dele, como ``Minha Confissão" e ``Perfeito Amor".
``Tom, Vinicius, Toquinho e Miúcha" foi um show que ficou meses em cartaz no Canecão, com os astros, em certas noites, várias doses acima da Humanidade. Mas era um espetáculo: repertório de primeira e uma ``showmanship" a toda prova. Foi nesse show que surgiu a resposta de Tom (e Chico Buarque) à ``Carta ao Tom" de Toquinho e Vinicius, com a letra que falava da invasão de Ipanema pelos pivetes e por Sérgio Dourado. Já era um alerta –se tivesse sido ouvido.
E o disco de Lucio Alves é um show vocal, com ele em grande forma, esbanjando classe em sambas e canções que têm por título nomes de mulheres: ``Ana Luiza" e ``Lígia", de Jobim; ``Rosa", de Pixinguinha etc. Outra atração são os arranjos de Chiquinho de Moraes, abrindo com uma versão instrumental de ``Mulher", ao estilo ``Moonlight Serenade".
Capricho era isso aí.

Título: Samba na Madrugada
Artistas: Paulinho da Viola e Elton Medeiros
Gravadora: RGE
Título: Tom, Vinicius, Toquinho e Miúcha - Ao vivo no Canecão
Gravadora: Sigla
Título: Lucio Alves - Acervo Especial
Artista: Lucio Alves
Gravadora: BMG/RCA
Preço: R$ 20,00

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