São Paulo, domingo, 23 de outubro de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Governador `importa' eleitor para Roraima

XICO SÁ
ENVIADO ESPECIAL A BOA VISTA (RR)

O governador de Roraima, Ottomar Pinto (PTB), sustenta o seu esquema político com projetos como a Pintolândia, nome oficial de um conjunto de 5 mil casas e lotes destinado a abrigar os eleitores ``importados" de outros Estados.
Foi graças a invenções desse porte que o governador elegeu sua mulher, a senadora Marluce Pinto (PTB), 5 dos 8 deputados federais e é favorito na disputa do governo no 2º turno, com seu candidato Neudo Campos (PTB).
Na bancada de Pinto se encontra o deputado federal mais votado do Brasil, em termos proporcionais: Moisés Lipnik (PTB), que obteve 12% dos votos de Roraima e 27% de todos os votos para a Câmara dos Deputados no Estado.
Além das casas e terrenos, o governador reforçou seu kit-eleitoral com a entrega de muitas calças jeans e cestas básicas. O jeans foi o grande objeto do desejo dos eleitores de Roraima. Só os índios, que preferem calções, ficavam fora da distribuição das calças.

O nome do bairro
Pintolândia parece nome de brincadeira, mas trata-se de um batismo oficial do governo, numa auto-homenagem a Ottomar Pinto, um brigadeiro da reserva da Aeronáutica, que administra Roraima pela segunda vez.
Antes de ser eleito diretamente, em 1990, Pinto foi governador nomeado de 1979 a 1983, quando Roraima ainda era um Território.
O nome Pintolândia consta das placas de inaugurações e documentos da burocracia estadual e é um orgulho para o brigadeiro, que o alardeia em todas as suas campanhas publicitárias.
Somente para as eleições deste ano, o governador e os seus aliados teriam ``importado" pelo menos 4.000 novos eleitores, de acordo com representações encaminhadas pelos adversários ao TRE (Tribunal Regional Eleitoral).
Acusações desse tipo, de uso explícito da máquina do governo, já renderam incômodos para o governador e para a sua mulher, Marluce. Na noite de quarta-feira, o TRE decidiu pela inelegibilidade do casal nos próximos três anos –estão proibidos de se candidatar.
Pinto e Marluce, que foram denunciados pela Procuradoria da República em Roraima, recorreram ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral) e ao STF (Supremo Tribunal Federal) para tentar derrubar a decisão.
Esse tipo de complicação jurídica, no entanto, não inibe o governador. Na manhã de quinta-feira, por exemplo, ele já dava ordens para os seus funcionários distribuírem toneladas de material de construção aos eleitores da Pintolândia.
A Folha visitou o galpão onde é feita a entrega. Até soldados do Exército ajudavam, a pedido do governador, na organização das filas e na distribuição.
Na fila, a eleitora ``importada" Socorro Morais Chaves, 32, esperava para receber cimento, tijolos e telhas para completar a reforma da casa que ganhou na Pintolândia.
Ela veio com a família de Teresina, atraída por propaganda do governo de Roraima. Enfrentou 11 dias, entre estradas e rios, para chegar à terra prometida por Ottomar. ``Estou aqui há quatro meses, mas já votei nos candidatos do homem (governador). Agora estou recebendo o que tenho direito."
Izael Rodrigues da Costa, 33, pai de cinco filhos, veio do Maranhão no início do ano. Aliados de Ottomar Pinto pagaram as passagens para 12 parentes seus, que retribuíram agora com votos.
Costa não ganhou uma casa já feita, como milhares de eleitores, mas já recebeu um terreno na Pintolândia e espera, agora na campanha do segundo turno, material para a construção: ``Só votei em candidatos do governador."

Texto Anterior: Projeto é passo para melhoria política
Próximo Texto: Ottomar nega sentido eleitoral
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.