São Paulo, domingo, 23 de outubro de 1994
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PT no governo

GILBERTO DIMENSTEIN

BRASÍLIA – Pesquisa Datafolha publicada hoje revela um dado supreendente: recusando uma postura radical, a esmagadora maioria (77%) dos eleitores quer o PT participando do Governo Fernando Henrique Cardoso. Tem sentido - aliás, muitíssimo sentido.
Muito mais do que nos tempos na ditadura, a solidez do PT está, agora, ameaçada. Nem Lula nem o partido ainda encontraram um discurso para se diferenciar. Eles se dizem oposição, mas ainda não informaram o que vão combater. Muitas das prioridades do novo governo coincidem com as prioridades do PT.
Um detalhe significativo. Na semana passada, houve um debate no auditório da Folha. E, ali, o senador eleito José Serra afirmou que a prioridade número 1 deveria ser educação. Note-se que a afirmação vem de um economista e não de um pedagogo.
Fernando Henrique se comprometeu a guindar à condição de ministérios estratégicos Saúde e Educação, priorizando o investimento social. Até porque ele sabe estarem intimamente vinculadas educação, saúde e progresso econômico.
Seguindo uma linha de centro-esquerda, o novo governo força o PT a ir mais à esquerda para se diferenciar –e, aí, seria uma tragédia, isolando-o mais ainda. Lembre-se que, irritado com o radicalismo, Victor Buaiz, por exemplo, já ameaçou deixar o partido.
Já no governo, o partido poderia demonstrar eficiência em algum ministério social –assim como demonstrou eficiência em várias prefeituras. E, assim, habilitar-se para a sucessão de 1998.
Moral da história: ou o PT acaba com seus debilóides ideológicos ou os debilóides ideológicos acabam com o PT. `
PS - Sobre a coluna tratando de vícios e drogas, recebi, por fax, uma interessantíssima informação do médico Luiz Alberto Chaves de Oliveira, que trata dependentes em São Paulo. A produção de bebidas alcoólicas no Brasil é de 2,5% do Produto Interno Bruto. Seus efeitos, porém, custam, segundo ele, 5,4% do PIB (licenças, aposentadorias precoces, internações hospitalares) –sem contar os acidentes de trânsito, atropelamentos e queda no rendimento de trabalho.

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