São Paulo, terça-feira, 25 de outubro de 1994 |
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Madonna volta meiga para a hora de dormir
ERIKA PALOMINO
Romântica mesmo. Assumida. No material de divulgação, a cantora explica que está ``orgulhosa de ter feito `Erotica' ". Segundo ela, um disco à frente de seu tempo que reflete o lado mais escuro de sua personalidade. Este disco revelaria o outro lado. Assim, enquanto ``Erotica" (92) assustava ao expor a cantora em sua persona de dominatrix, a tal Dita, ``Bedtime Stories" vem cheio de baladas e canções suaves. Aquelas que sempre estiveram nos discos anteriores, mas que só existem na mente dos que decoram todas as faixas e não apenas as que tocam no rádio. ``Bedtime Stories" não tem dance music, não tem pista, não tem sexo. Este sim, portanto, o lado B de Madonna. E ela é boa nisso. Aí estão ``Crazy For You", ``Live to Tell" e até a recente ``I'll Remember" (da trilha do filme ``Com Mérito") que não deixam ninguém mentir. Aqui, a música ``Secret", que já martela as rádios e TVs de todo o mundo, apresenta essa tendência. De fato, é uma das mais fortes e de mais personalidade. Mas, se o álbum aparece como um dos mais coesos e redondos de Madonna, é preciso dizer também que nem todas as faixas têm o mesmo impacto. Ao escolher a linha romântica, Madonna larga o produtor Shep Pettibone, que estourou com ela no início de sua carreira e brilhou de novo em ``Erotica" (``Fever" e ``Deeper and Deeper" são intocáveis). Troca as batidas da dance pelo molejo do rhythm and blues ao chamar os produtores Nellee Hooper, Dallas Austin, Dave Hall e o rapper e compositor BabyFace. Explica-se. Hooper é um dos nomes por trás do sucesso do Soul II Soul. Mais recentemente, idem para Massive Attack e Bjork; o mesmo para Hall e Mariah Carey. Austin fez o mesmo com os bem-sucedidos grupos vocais Boyz II Men e Joy. Citações feitas, já dá para entender o clima de ``Bedtime Stories". Sincopado, sofisticado e suave, sensual ao modo do ``swingbeat" (gênero de dance music mais ameno e pop, com fortes referências ao rhythm and blues). Por sua vez, Madonna dá outras pistas das mudanças nas letras das músicas. Na chatinha ``Survival", que abre o disco, ela diz: ``Nunca serei um anjo, nunca serei uma santa, é verdade; estou muito ocupada tentando sobreviver no céu ou no inferno e vou viver para contar". O hit ``Secret" vem depois, abrindo para ``I'd Rather Be Your Lover", que brilha devido ao refrão e à assustadora força do baixo de Me'Shell NdegéOcello. Ela grava pelo selo de Madonna, o Maverick, e é uma das principais revelações da nova geração feminina. ``Don't Stop" é inacreditável. Uma baba com letra voltada para as pistas que poderia ter sido gravada pela Angélica. Traz Madonna cantando como tal, também. Melhor passar rápido por esta e pela próxima, a enjoadinha ``Inside of Me" (mais um momento vocal Angélica). Ainda bem para todos que depois vem ``Human Nature", um dos grandes momentos do disco. Madonna sussurra na voz com que aliás deveria cantar em todo o disco. A mesma das introduções de ``Erotica" ou de ``Justify My Love". Um sucesso. ``Forbidden Love" é bonita, uma dessas baladas que galgam paradas de sucesso. Atenção para o título Biblioteca das Moças: ``Amor Proibido" (!!!). Agora, isto também é Madonna. Vamos também dar um skip rápido em ``Love Tried To Welcome Me", outra balada, para apreciar o sofisticado trabalho dos produtores e o bom refrão de ``Sanctuary" e finalmente nos deliciar com ``Bedtime Story", que batiza o álbum. A graça: com a assinatura de Bjork como compositora, a faixa faz Madonna lembrar graciosamente o personalíssimo estilo vocal da cantora islandesa. Brilhante. Um bom par de remixes pode levar esta faixa aos clubes, já que a base tem, lá no fundo, batida tecno –que até lembra a linha melódica de ``French Kiss", de Lil Louis. Para terminar, a eficiente, lenta e quase brega ``Take a Bow", em que Madonna se despede no refrão (``the show is over, say goodbye"). Bem, ao menos não se pode dizer que ela não surpreende. Título: Bedtime Stories Intérprete: Madonna Lançamento: Warner Music; a partir de hoje nas lojas Preço médio: R$ 20 (CD), R$ 18 (vinil) Texto Anterior: Masp devia integrar o `Brasil dos Viajantes' Índice |
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